Análise: Obama precisa de apoio papal em sua agenda doméstica
O papa Francisco criticou parte do plano de saúde universal criado pelo presidente americano Barack Obama no primeiro encontro dos dois na manhã desta quinta-feira no Vaticano.
Em nota, o Vaticano disse que "no contexto das relações bilaterais, houve uma discussão de questões de particular relevância para a Igreja [nos Estados Unidos], como o exercício dos direitos de liberdade religiosa, direito à vida e a objeção de consciência".
A Igreja católica americana foi à Justiça contra o plano de saúde de Obama por obrigar os empregadores a financiar os anticoncepcionais de suas funcionárias. Empresas católicas querem isenção, o que Obama se nega a conceder.
A Casa Branca queria que a luta contra a pobreza global ou a desigualdade de oportunidades nos EUA tivessem destaque, mas elas ficaram de fora do comunicado do Vaticano.
Outros temas importantes para Obama, reforma imigratória e combate ao tráfico de pessoas, foram citados na nota. Mais tarde, Obama disse em Roma que o combate à pobreza foi discutido entre os dois chefes de Estado.
Não se sabe se o papa aproveitou para criticar as posições favoráveis de Obama ao aborto e ao casamento gay.
No início do encontro, que durou 52 minutos e aconteceu na biblioteca particular do papa, Obama se declarou hoje um "grande admirador" do papa Francisco.
"Sua Santidade é provavelmente a única pessoa do mundo que precisa aguentar mais protocolo do que eu", brincou Obama.
O presidente americano precisa hoje em dia mais do papa Francisco que vice-versa. Trata-se de uma adiada passagem de bastão entre o presidente que simbolizou uma nova era (e perdeu muito do brilho desde então) e o papa superstar que hoje representa essa demanda por renovação.
A diferença na popularidade dos dois nos EUA é significativa: o papa Francisco tem imagem positiva para 76% dos americanos, segundo pesquisa divulgada ontem pelo instituto Gallup (Obama tem 42%).
Fontes da Casa Branca adiantaram que Obama queria angariar o apoio papal em temas sobre desigualdade nos EUA e seu projeto de aumentar o salário mínimo americano, emperrado no Congresso _ o que, pela nota do Vaticano, parece não ter acontecido.
Em outubro passado, Obama citou em um discurso o papa Francisco, falando que a desigualdade social e a desigualdade nas oportunidades estão entre os maiores desafios do capitalismo.
O papa foi escolhido o "homem do ano" tanto pela revista Time quanto pela revista dedicada ao público gay "The advocate". Também foi capa da Rolling Stone. Igual a Obama anos atrás.
Com exceção de alguns nomes da extrema-direita americana, como a ex-candidata republicana a vice-Presidência Sarah Palin e o radialista Rush Limbaugh, que chamaram o papa de "marxista", democratas e republicanos igualmente têm uma opinião favorável do argentino.
Em encontros anteriores entre um papa e um presidente americano no Vaticano, temas espinhosos surgiram como o pedido pelo fim do embargo americano a Cuba e contra a guerra do Iraque (de Bento 16 para George W. Bush), assim como houve alianças, como entre Ronald Reagan e João Paulo 2º contra o comunismo.
Ao contrário da Igreja Católica americana, mais conservadora que o atual papa, pesquisa do instituto Pew mostra que boa parte dos católicos americanos também quer mudanças na Igreja _ 77% deles querem que o Vaticano autorize anticoncepcionais, que padres possam se casar (72%), que mulheres sejam ordenadas sacerdotes (68%) e o casamento entre pessoas do mesmo sexo (50%).
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis