Vazamento de Fukushima não deve aumentar casos de câncer, diz ONU
O desastre nuclear de Fukushima, no Japão, não deve levar a um aumento no número de pessoas com câncer como aconteceu depois de Chernobyl em 1986, embora as crianças mais expostas à radiação possam ter um risco maior, disseram cientistas da ONU nesta quarta-feira.
Em um importante estudo, o Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica (Unscear, na sigla em inglês) declarou não esperar "mudanças significativas" nas futuras taxas de câncer –um possível aumento de casos da doença poderia ser atribuído à exposição à radiação após terremoto e tsunami de 2011.
"Não se esperam mudanças discerníveis em taxas futuras de câncer e de doenças hereditárias por causa da exposição à radiação resultante do acidente nuclear de Fukushima", declarou a Unscear em um comunicado acompanhando seu estudo de quase 300 páginas.
A quantidade de substâncias radioativas, como o iodo-131, liberadas depois do acidente de 2011 foi muito menor do que depois do acidente em Chernobyl, e as autoridades japonesas também realizaram ações para proteger as pessoas que vivem perto da usina atingida, incluindo retiradas de pessoal.
Entretanto, algumas crianças –estimadas em menos de mil– podem ter recebido doses que podem influenciar no risco de desenvolvimento de câncer da tiroide mais tarde, disse a Unscear. Ainda assim, essa probabilidade é baixa.
O presidente da Unscear, Carl-Magnus Larsson, disse haver, em tese, um risco maior de desenvolvimento da doença entre as crianças mais expostas
Wolfgang Weiss, que presidiu a investigação de Fukushima, disse que o risco de câncer da tiroide é muito mais baixo do que depois de Chernobyl e que qualquer aumento só afetaria um número limitado de pessoas.
Weiss disse que sua mensagem para as famílias seria: "O risco é baixo Continuem a vida. Não tenham medo. Mas se você tem a sensação de que precisa de apoio, consulte um médico especialista neste tipo de questão".
A Unscear disse que 80 cientistas destacados trabalharam no relatório, e que o material foi analisado por seus 27 países-membros.
ACIDENTE
Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9 seguido de um tsunami devastaram a usina nuclear de Fukushima Daiichi, 220 km a nordeste de Tóquio, espalhando radiação e forçando cerca de 160 mil pessoas a sair de casa.
Foi o pior desastre nuclear do mundo desde a explosão do reator de Chernobyl, que espalhou poeira radioativa por boa parte da Europa. Pessoas próximas da usina foram expostas ao iodo radioativo, que contaminou o leite.
A tireoide –uma glândula do pescoço que produz hormônios que regulam as funções corporais vitais– é o órgão mais sujeito ao câncer já que o iodo radioativo se concentra lá. As crianças são consideradas especialmente vulneráveis à radiação​​, embora o câncer de tireoide seja raro entre os jovens.
Na Bielorrússia, Rússia e Ucrânia, os países mais afetados por Chernobyl, mais de 6.000 casos de câncer de tireoide foram relatados em 2005, em crianças e adolescentes que foram expostas no momento do acidente, segundo a Unscear.
O órgão da ONU disse que cerca de 35.000 crianças com até cinco anos viviam em bairros onde a média absorvida pela tireoide era entre 45 e 55 milliGrays (mGy), uma medição de radiação.
Mas as doses variaram consideravelmente entre os indivíduos –até duas a três vezes maior ou menor que essa média.
Em Fukushima, a Unscear considerou que menos de mil crianças podem ter absorvido doses maiores que 100 mGy e que poderiam chegar até cerca de 150 mGy.
Além disso, em Fukushima houve "ações rápidas de proteção" das autoridades japoneses, segundo o relatório.
Em comparação, o relatório da Unscear sobre Fukushima diz esperar um impacto pequeno nas taxas de câncer na população, o que é devido em grande parte às
Um raio de 30 km ao redor da usina foi declarado zona de exclusão aérea, e áreas onde a radiação não estava tão criticamente alta adotaram medidas como substituir a terra de parques e áreas de lazer das escolas, descontaminar espaços públicos como calçadas e limitar o tempo de lazer das crianças fora de casa.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis