Pesquisa diz que 20% dos candidatos de eleição na Índia têm ficha suja
Quase 20% dos candidatos nas eleições que terão lugar na Índia na próxima semana são acusados de crimes que incluem estupro, homicídio e extorsão, segundo pesquisa publicada na quarta-feira.
A análise das fichas de 1.492 candidatos que vão disputar mais de 120 vagas na câmara baixa indiana, que tem 545 cadeiras, vai gerar mais receios sobre a "criminalização" da política na maior democracia do mundo.
Os primeiros dos 815 milhões de eleitores irão às urnas na segunda-feira. Escalonada ao longo de seis semanas para permitir o uso sucessivo das forças de segurança, a eleição é descrita por analistas como a mais importante em décadas.
A eleição coloca o nacionalista hindu Narendra Modi, candidato a primeiro-ministro pelo partido Bharatiya Janata (BJP), contra Rahul Gandhi, 43, herdeiro da mais famosa dinastia política do país e representante do Partido do Congresso, que quer se manter no poder para um terceiro mandato. Várias pesquisas situam Modi e o BJP na dianteira.
O estudo foi divulgado pelo instituto de estudos Associação para Reformas Democráticas (ADR) e foi baseado em declarações eleitorais apresentadas pelos candidatos.
"Não é possível ter pessoas que infringiram as leis legislando. Até agora tínhamos evidências apenas indiretas. Agora temos provas concretas", disse o professor Jagdeep Chhokar, da ADR.
Algumas das acusações criminais podem ser infundadas, já que o processo judicial frequentemente é usado para sujar o nome de adversários políticos e a polícia em muitos Estados indianos é altamente corrupta.
"Crimes hediondos são uma coisa, mas muitas das outras acusações criminais foram feitas apenas para difamar alguém", disse um ministro do governo na quarta-feira. "Um político deveria ter recebido pelo menos uma condenação em um tribunal de instância superior antes que sua carreira seja encerrada."
Mas Chhokar disse que, à medida que as declarações de milhares de outros candidatos forem examinadas, ele prevê que a proporção de candidatos com acusações criminais aumente.
"Estamos prevendo que entre 20% e 30% dos candidatos tenham acusações criminais pendentes. Espero que não sejam tantos, mas, realisticamente, é provável que seja esse o caso."
Dos candidatos analisados até agora, 269 (18%) têm ações criminais declaradas movidas contra eles. O estudo constatou que a proporção mais alta de candidatos criminalmente acusados é do BJP, mas que 17% são do recém-formado partido Aam Admi, cuja campanha é baseada numa plataforma de transparência e combate à corrupção.
O estudo cobriu metade dos 35 Estados e territórios da Índia. Kerala foi o Estado com a maior proporção de candidatos criminalmente acusados, embora as acusações geralmente sejam de teor menos grave que as feitas a políticos de outras partes do país.
Em Déli, 23 candidatos que disputam sete vagas são acusados criminalmente, 13 deles de crimes graves, passíveis de sentenças de prisão de mais de cinco anos.
Quase um terço dos membros do Parlamento anterior tem processos criminais pendentes contra eles, mais que o Parlamento eleito em 2004, quando a proporção de acusados foi de 24%.
Pouco após o estupro coletivo e assassinato de uma estudante de 23 anos de fisioterapia em Déli, em dezembro de 2012, a ADR divulgou dados mostrando que centenas de homens acusados de violência sexual contra mulheres foram candidatos nas eleições indianas nos cinco anos anteriores.
Embora a maioria tivesse se candidato em eleições estaduais, o instituto descobriu que dezenas de candidatos homens acusados criminalmente de agressão e outros delitos foram escolhidos pelos partidos principais para concorrer a vagas na assembleia nacional.
Muitos dos políticos acusados de estupro eram dos Estados pobres do norte do país com históricos fracos em termos de cumprimento das leis, como Uttar Pradesh e Bihar.
Tradução de CLARA ALLAIN
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