Santuário na Síria ajuda a atrair combatentes pró-governo ao país
A cidade de Sayed Zeinab, antes um centro religioso e comercial aberto ao mundo, parece agora uma zona militar fortemente vigiada próxima à capital síria, Damasco.
No santuário que abriga o túmulo onde se acredita que estejam os restos mortais de Zeinab, uma neta do profeta Maomé, homens e mulheres ainda rezam sob tetos reluzentes com azulejos espelhados.
Mas as ruas lá fora, antes intransitáveis devido ao grande número de peregrinos e de pessoas fazendo compras, hoje estão quase vazias. O pátio do santuário é atravessado por homens armados usando uniformes militares não identificados.
Alguns manifestam bom humor e otimismo. Recentemente, um homem trajando uniforme de camuflagem do deserto, semelhante ao que é usado pelos fuzileiros navais americanos, abordou um visitante e estendeu a mão. "Sou do Hizbullah", disse.
Sergey Ponomarev/The New York Times | ||
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Mulheres rezam no santuário de Zeinab, neta do profeta Maomé, na cidade síria de Sayed Zeinab |
A apresentação, vinda de um membro de uma organização normalmente discreta, reflete o ganho de confiança do grupo xiita libanês em relação à visão de que estão ajudando a repelir os insurgentes que há mais de três anos tentam derrubar o governo do ditador Bashar al-Assad.
A guerra civil já deixou mais de 150 mil mortos no país.
Quando a Síria mergulhou no conflito, a ideia de que o santuário pudesse ser destruído alarmou os fiéis.
A neta de Maomé, que perdeu irmãos e filhos em uma batalha e chegou a Damasco como prisioneira, é homenageada há muito tempo, especialmente por xiitas, como símbolo de sacrifício e persistência.
O fervor religioso ajudou a animar dezenas de milhares de combatentes xiitas a vir do Iraque, do Líbano e de outras partes da Síria para a cidade –teoricamente para defender o santuário, mas na prática para combater ao lado das forças sírias.
Levou também alguns extremistas sunitas, que veem os xiitas como infiéis, a declarar o santuário um alvo.
Em meio a isso tudo, o santuário sobrevive, mas a um custo alto.
Ele é presidido em parte por combatentes estrangeiros cujo papel divide profundamente os sírios –alguns se sentem gratos a eles; outros, enfurecidos. E a história de lamento e deslocamento de Zeinab ganha nova ressonância diante da vida diária na região.
Morteiros disparados por insurgentes já mataram civis, incluindo crianças, nas proximidades do santuário.
Bombardeios do governo dilaceraram bairros controlados pelos insurgentes, sendo seguidos por máquinas que demoliram as construções danificadas, para eliminar os esconderijos de atiradores.
No santuário, um morteiro danificou o minarete, e no mês passado outro morteiro caiu no pátio durante as orações. O fato de não ter explodido foi visto como milagre.
O Hizbullah diz há algum tempo que a proteção do santuário foi uma das principais razões pelas quais enviou combatentes à Síria, uma iniciativa que desestabilizou alianças regionais, aprofundou as divisões políticas e sectárias do Líbano e ajudou o governo sírio a recuperar terreno.
O Hizbullah e as autoridades sírias minimizam o papel do grupo libanês, dizendo que foi o exército sírio que liderou o combate. Mas, nas vitórias recentes, esse cálculo parece ter mudado.
Recentemente o líder do Hizbullah, Hassan Nasrallah, declarou que o governo sírio não corre risco de cair e que o único erro de seu grupo foi ter demorado demais a entrar na batalha.
O governo agora controla a estrada que liga Damasco a Sayeda Zeinab e ao aeroporto. A vida está voltando à normalidade, pouco a pouco, nos arredores do santuário. Mas o ambiente, antes festivo, hoje é sombrio.
Tradução de CLARA ALLAIN
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