Presidente diz que facções palestinas reconhecerão Estado de Israel
Apesar das condenações do governo israelense, que suspendeu na quinta-feira as negociações de paz, a liderança palestina irá levar adiante o acordo para unificar suas facções Fatah e Hamas, disse ontem Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina.
O governo tecnocrata que ele planeja formar, nas próximas semanas, irá, porém, reconhecer o Estado de Israel e condenar a luta armada. "Ninguém poderá dizer que é uma gestão de terroristas."
Abbas falava diante de dezenas de líderes seniores da Organização para a Libertação da Palestina, em seu complexo presidencial na cidade de Ramallah, na Cisjordânia.
Em um longo discurso acompanhado pela reportagem da Folha, o presidente afirmou também que está disposto a seguir adiante com as negociações de paz –desde que Israel liberte 30 prisioneiros palestinos, como fora anteriormente acordado.
As negociações de paz entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina foram iniciadas no ano passado, após pressão diplomática americana. À época, foi estabelecido que Israel libertaria prisioneiros palestinos e, em troca, o presidente Abbas não pediria o ingresso em organizações internacionais.
Os presos foram libertados ao longo dos meses em três etapas. Chegada a última fase, no final de março, Israel recusou-se à soltura –e Abbas inscreveu a Autoridade Nacional Palestina em 15 acordos internacionais.
Para maior desgosto do governo israelense, Abbas firmou também, na semana passada, um acordo de reunificação com a facção Hamas, que Israel considera como sendo terrorista.
Em resposta, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, se disse surpreendido pelo gesto e congelou as negociações.
"Eles sempre dizem que estão surpresos", provocou ontem Abbas durante discurso, em tom jocoso. "Mas a delegação [representando o Fatah diante do Hamas] viajou a Gaza com autorização israelense, pela fronteira. Como foram surpreendidos?"
RECONHECIMENTO
As críticas de Israel se devem, em parte, à afirmação de que o Hamas não reconhece o Estado israelense, ao contrário da liderança de Abbas. Segundo o presidente, um governo de unidade –mesmo com o Hamas em suas fileiras– manteria firme o reconhecimento.
Fatah e Hamas estão divididos após um violento conflito em 2007 que resultou em um abismo político. Hoje Fatah governa a Cisjordânia enquanto o Hamas tem o poder dentro da faixa de Gaza.
Respondendo às críticas do governo israelense, que desaprova a aproximação entre as facções israelenses, Abbas citou acordos anteriores entre Israel e Hamas –por exemplo, na libertação do soldado israelense Gilad Shalit. "Israel fez acordos com o Hamas, por que eu não posso?", perguntou-se.
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