Contra cortes de luz, geradores privados se espalham por Bagdá
Em Bagdá, capital do Iraque, é praticamente impossível ver TV ou navegar na internet sem ser interrompido por quedas de energia.
Num país de infraestrutura devastada por guerras e corrupção, muitas cidades passam boa parte do tempo desconectadas da rede elétrica.
Para minimizar o problema, pessoas e empresas recorrem a geradores privados de energia, a gás ou gasolina, que se tornaram um dos símbolos mais visíveis –e barulhentos– do Iraque pós-Saddam Hussein.
Acionados sempre que a energia cai, eles se espalham por calçadas comerciais, portarias de prédios e pátios de escolas e hospitais.
Nos primeiros anos da invasão americana, iniciada em 2003, pequenos modelos de uso doméstico proliferaram.
Mas o alto custo com combustível e manutenção levou muitos iraquianos a preferirem um sistema de assinaturas junto a intermediários, que investem em geradores mais potentes para revender eletricidade "à la carte".
Samy Adghirni/Folhapress | ||
Bolo de fios se forma em prédio ao lado de um dos geradores privados da capital do Iraque, Bagdá |
"Assinei contrato com um sujeito que fornece energia para a minha casa e minha loja. Sem isso, não se vive", diz o comerciante Ryad, 40.
"O problema é que, juntando contas de luz do governo e do fornecedor privado, pago US$ 1.000 por mês."
Os geradores coletivos de grande capacidade são do tamanho de uma Kombi e fazem tanto barulho que é preciso se afastar para poder conversar.
O emaranhado de fios que ligam os aparelhos aos assinantes às vezes forma bolos suspensos a postes e prédios.
O empresário Haytham bin Karad não se arrepende de ter gastado US$ 34 mil num gerador coletivo. "Tenho 45 clientes, todos comerciantes. Daqui a pouco o verão chega, e o consumo de energia dispara por causa do ar-condicionado. Dá para tirar um bom dinheiro", afirma ele.
O desabastecimento é um dos desafios à espera do próximo governo, que será formado após a eleição parlamentar da quarta-feira passada. Resultados sairão nos próximos dias.
Críticos dizem que o problema expõe a incapacidade das autoridades em atender necessidades básicas da população, apesar da bonança petroleira.
O Ministério da Eletricidade alegou, em entrevista à Al Jazeera no ano passado, que problemas com energia resultam de dois fatores: destruição das instalações durante a guerra e explosão do consumo, devido à generalização do uso da internet e dos aparelhos de ar-condicionado.
Blecautes remontam aos tempos de Saddam, quando o Iraque sofria embargo econômico. Bagdá, contudo, era amplamente poupada dos cortes pelo regime.
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