Liberdade de imprensa no mundo é a menor em mais de dez anos, diz ONG
A liberdade de imprensa no mundo está no nível mais baixo em mais de uma década, segundo relatório da ONG americana Freedom House divulgado nesta semana.
A parcela da população mundial que vive sob ambientes de imprensa "livres" é de apenas 14% e equivale a 63 países, contra 44% de pessoas em locais "não livres" (66 países) e 42% sob regimes "parcialmente livres" (68 países).
O declínio foi puxado por quedas no Oriente Médio, como no Egito, na Líbia e na Jordânia, além de Turquia, Ucrânia e países do Leste da África, mas também foi propulsionado por uma deterioração nos Estados Unidos.
Segundo Karin Karlekar, diretora de projetos do relatório, a queda ocorreu por causa de "iniciativas de governos para controlar a mensagem e punir o mensageiro".
Ela chama a atenção para uma alta nos casos de Estados mirando repórteres estrangeiros e órgãos de imprensa em 2013. A Rússia e a China são exemplos de países que recusaram renovar passaportes de jornalistas de outros países ou ameaçaram fazê-lo e receberam notas 81 e 84, respectivamente –a avaliação vai de 0 a 100 e quanto mais alta, menor a liberdade.
Com nota 68, o Egito também se destacou ao deter profissionais da rede Al-Jazeera sob acusação de suporte ao terrorismo.
Os oito países com as piores avaliações no relatório continuam Bielorrússia, Cuba, Guiné Equatorial, Eritréia, Irã, Coreia do Norte, Turcomenistão e Uzbequistão.
AMÉRICA LATINA
Com avaliação 45, o Brasil é definido por Jennifer Dunham, analista-sênior de pesquisa da entidade, como um dos ambientes de imprensa mais abertos na América Latina, "especialmente em comparação com declínios recentes na Venezuela, Equador e Argentina".
Ela ressalva, contudo, dois impeditivos a uma melhor avaliação: as agressões a profissionais e a intimidação judiciária. "A maior intimidação vem de juízes decidindo a favor de figuras políticas proeminentes em casos de difamação ou privacidade e do grande número de solicitações para retirada de conteúdo".
Na América Latina, apenas 2% das pessoas vivem sob imprensas livres, segundo o relatório. A avaliação média caiu, puxada por Honduras, Panamá, Suriname e Venezuela. Na outra ponta, o Paraguai destacou-se ascendendo ao status de "parcialmente livre".
EUA
Já os Estados Unidos, com imprensa classificada como "livre" e avaliada em 21 pontos, figuraram entre os maiores declínios do mundo no período, graças às tentativas do governo de Barack Obama de inibir reportagens sobre questões de segurança nacional e compelir jornalistas a revelar suas fontes.
"Apesar de muitos desses casos terem sido iniciados na administração de George W. Bush, o governo Obama se mostrou igualmente preocupado em determinar segredos de justiça e em acionar jornalistas", diz Jennifer.
Um dos casos mais ilustres atualmente envolve James Risen, premiado repórter do "New York Times" e autor de um livro sobre os esforços americanos para desmantelar o programa nuclear iraniano, que foi acionado pelo Departamento de Justiça para denunciar contra sua suposta fonte, Jeffrey Sterling, um ex-empregado da CIA. Risen já se manifestou favorável a levar o caso à Suprema Corte.
Outro caso polêmico foi a apreensão, em 2013, também pelo Departamento de Justiça, de gravações de linhas de telefone da agência de notícias Associated Press e do jornalista James Rosen, correspondente da Fox News.
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