Governo nigeriano admite estar disposto a negociar com Boko Haram
O governo nigeriano anunciou nesta terça-feira que está disposto a dialogar com o Boko Haram para obter a libertação das mais de 200 adolescentes sequestradas em abril pelo grupo islamita Boko Haram.
Em vídeo divulgado na segunda, que mostra cerca de 130 meninas, o líder do grupo radical propõe trocar por militantes presos aquelas meninas que não foram convertidas ao islã, segundo a BBC.
A maioria das sequestradas é cristã, apesar de aparecerem recitando versos do Corão, o que indica que podem ter sido forçadas a se converter.
"A Nigéria sempre esteve aberta ao diálogo com os insurgentes", declarou o ministro nigeriano de Assuntos Especiais, Taminu Turaki, acrescentando que o governo está "pronto para discutir todas as questões, e as estudantes sequestradas em Chibok estão entre elas".
Reprodução/Reuters | ||
Imagem do vídeo divulgado pelo Boko Haram que mostra as adolescentes sequestradas |
As meninas foram sequestradas em uma escola da cidade de Chibok, no estado de Borno, no norte da Nigéria, em 14 de abril.
O ministro afirmou que se o Boko Haram está sendo "sincero", o líder do grupo, Abubakar Shekau, deveria enviar pessoas de sua confiança para negociar.
Turaki é presidente do Comitê de Reconciliação, estabelecido pelo presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, para buscar maneiras de negociar com os radicais.
Os Estados Unidos se manifestaram contra a negociação. "A Nigéria é que decide como enfrentar o Boko Haram. Mas é política dos Estados Unidos negar aos sequestradores os lucros de seus atos criminosos, e isso inclui recompensas ou concessões", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Kashim Shettima, governador do Estado de Borno, no norte do país, onde aconteceu o sequestro, disse que 77 das meninas que aparecem no vídeo foram identificadas por parentes e por jovens que escaparam do cativeiro.
AJUDA INTERNACIONAL
Vários aviões espiões dos Estados Unidos sobrevoavam nesta terça-feira o norte da Nigéria para ajudar a encontrar as jovens, segundo o Pentágono.
Oficiais americanos também disseram que o país está compartilhando imagens de satélites comerciais com os nigerianos.
O comandante das Forças Armadas americanas na África (Africom) chegou nesta terça-feira a capital Abuja para ajudar no resgate das jovens.
Uma equipe de cerca de 30 americanos, incluindo membros do FBI, já estão na Nigéria, assim como equipes do Reino Unido, da França e da China. Uma equipe de Israel também é esperada no país.
Em Londres, o Ministério das Relações Exteriores britânico informou que o secretário de Estado para a África, Mark Simmonds, viajará na próxima quarta para Abuja, onde manterá encontros com autoridades nigerianas para buscar novas formas de ajuda por parte do Reino Unido.
No próximo sábado, Paris receberá uma reunião regional para ajudar a Nigéria e os países vizinhos a enfrentar o Boko Haram. Representantes do Chade, Camarões, Níger e Benin, além de EUA e Reino Unido foram convidados.
Também em Paris, nesta terça, duas ex-primeiras-damas, Carla Bruni-Sarkozy e Valérie Trierweiler, exigiram a libertação das jovens.
A rebelião do Boko Haram ("A educação ocidental é um pecado" na língua hausa) provocou milhares de mortes desde 2009.
O grupo nigeriano islamita, que deseja a criação de um Estado islâmico, ampliou a área de atuação e cometeu recentemente ataques fora de seus redutos na região norte da Nigéria, de maioria muçulmana.
O presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, pediu nesta terça ao Parlamento que prolongue por mais seis meses o estado de emergência estabelecido em maio nos Estados de Borno, Adamawa, e Yobe por causa dos ataques do grupo.
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