Turquia faz enterro coletivo de mineiros em meio a revolta
Alto-falantes anunciaram os nomes dos mortos à medida que fileiras de túmulos eram preenchidas na cidade mineira turca de Soma nesta quinta-feira, e milhares protestaram em grandes cidades, transformando a tristeza em revolta após o acidente industrial mais grave da história do país.
Equipes de resgate ainda tentavam alcançar partes da mina de carvão de Soma, 480 quilômetros a sudoeste de Istambul, mais de dois dias depois de um incêndio cortar a energia e desligar dutos de ventilação e elevadores, aprisionando centenas de pessoas na mina.
Pelo menos 283 pessoas tiveram suas mortes confirmadas, a maioria por envenenamento por monóxido de carbono, e diminuem as esperanças de retirar com vida os cerca de cem mineiros que ainda podem estar retidos.
A revolta tomou conta do país, que vivenciou uma década de acelerado crescimento econômico sob o governo de inspiração islâmica do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, mas ainda sofre com um dos piores históricos de acidentes de trabalho do mundo.
Moradores furiosos atormentaram Erdogan na quarta-feira enquanto ele visitava a cidade, revoltados com o que veem como camaradagem do governo com magnatas da mineração, incapacidade de garantir a segurança e falta de informações sobre o esforço de resgate.
O acesso à entrada da mina foi bloqueado por barreiras da polícia paramilitar a vários quilômetros de distância para uma visita do presidente turco, Abdullah Gul, nesta quinta-feira, e os carros eram revistados pelos policiais.
"Viemos aqui para partilhar a tristeza e esperar que nossos amigos saiam, mas não nos permitiram. A dor do presidente é maior que a nossa?", indagou Emre, de 18 anos, que tentava chegar à mina e disse que amigos do seu vilarejo ainda estão aprisionados.
Erdogan, que declarou três dias de luto nacional a partir de terça-feira, lamentou o desastre, mas disse que tais acidentes não são incomuns e adotou uma atitude defensiva quando foi indagado se precauções suficientes haviam sido tomadas.
O jornal "Radikal" publicou um vídeo amador em seu site que parece mostrar Erdogan dizendo "Venham aqui e zombem de mim!", enquanto caminhava em meio a uma multidão hostil na cidade.
Milhares se reuniram depois das preces do meio-dia para o enterro de mais de 40 dos mineiros no principal cemitério de Soma, onde mais de cem túmulos foram cavados bem próximos uns dos outros. A maioria da população nos arredores da cidade trabalha ou tem parentes empregados na indústria de mineração.
O cemitério estava tão lotado de enterros sucessivos que o imã pediu insistentemente às famílias que prestassem suas últimas homenagens rápido para abrir espaço para outros enlutados.
Nenhuma autoridade do governo compareceu.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis