Em discurso a militares, Obama nega enfraquecimento bélico dos EUA
Jim Watson/AFP | ||
Presidente americano, Barack Obama, chega à Academia Militar de West Point no Estado de Nova York |
O presidente Barack Obama reagiu às crescentes críticas internas de que estaria "enfraquecendo" a liderança americana no mundo, dizendo que "nem todo o problema tem uma solução militar" e defendendo o uso da diplomacia e de alianças com outros países.
Em discurso pela manhã nesta quarta-feira (28), na formatura da Academia Militar de West Point (Estado de Nova York), Obama disse que o "isolacionismo não é uma opção", mas voltou a defender a retirada militar do Iraque e do Afeganistão.
"Alguns de nossos maiores erros desde a Segunda Guerra Mundial aconteceram não por nossas restrições ao uso da força, mas por nossa vontade de se atirar em aventuras militares sem pensar nas consequências", disse aos formandos.
Disse preferir fortalecer o sistema internacional, retrucando aos céticos do país "que acham que trabalhar sob a ONU ou sob leis internacionais é sinal de fraqueza".
Obama citou rapidamente o Brasil ao falar dos poderes emergentes pelo mundo. "Do Brasil à Índia, classes médias emergentes competem com a nossa, e governos buscam uma maior voz em fóruns globais", disse.
Ele respondeu às maiores críticas à sua política externa.
"Não há respostas fáceis na Síria, nem soluções militares que possam reduzir o sofrimento por lá, em uma guerra cada vez mais sectária", discursou. Mas disse que vai enviar mais ajudas à "oposição moderada" no país, sem dar detalhes, assim como aos países que estão recebendo milhares de refugiados sírios, como Jordânia, Líbano, Turquia e Iraque.
Sublinhou a importância de alianças contra a Rússia e a favor da Ucrânia e para deter o programa nuclear iraniano. "Pela primeira vez em uma década, temos uma chance real de atingir um acordo, sem o uso de força, com canais multilaterais que deixaram o mundo do nosso lado. Isso é liderança americana".
CONTRATERRORISMO
Obama pediu ao Congresso americano (onde ele não tem maioria na Câmara dos Deputados) a aprovação de um fundo de US$ 5 bilhões para fomentar ações de contraterrorismo, treinamento e equipamento em países do norte da África, Oriente Médio e Ásia Central, como Iêmen, Líbia e Somália.
O presidente americano também voltou a falar que quer fechar a prisão de Guantánamo, aonde suspeitos de terrorismo são detidos fora do alcance da Justiça americana (em outro tema que depende de hipotética aprovação do Congresso).
OPOSIÇÃO
Boa parte do discurso tratou de desmentir as acusações da oposição republicana que Obama estaria "enfraquecendo" o país no mundo.
"Quando um tufão afeta as Filipinas, quando estudantes na Nigéria são sequestradas ou quando mascarados ocupam um prédio na Ucrânia, é para a América que o mundo olha pedindo ajuda", discursou.
Ao falar de novas alianças, citou Rússia e China.
"As agressões russas contra antigos Estados soviéticos preocupam as capitais da Europa, e o alcance militar e econômico da China preocupa seus vizinhos.".
Ele ensaiou uma autocrítica no uso de drones ("precisamos de mais transparência e de regras no uso"), sem dar mais detalhes, mas falou que "não precisamos criar mais inimigos".
Em uma raro tema não-militar, Obama falou de mudanças climáticas, de novo criticando a posição dos republicanos. "Não podemos pedir compromissos para combater as mudanças climáticas quando alguns de nossas lideranças políticas negam a sua existência".
O defensivo discurso de West Point é considerado uma tentativa de responder às crescentes críticas à sua política externa, da inação na Síria (aonde ele ameaçou o ditador Bashar al-Assad de enfrentar consequências se ele cruzasse o "sinal vermelho", o que nunca aconteceu) aos desafios do presidente russo Vladimir Putin _ sem recorrer às ações militares unilaterais da era Bush, que alienou diversos aliados tradicionais dos EUA, ou de ceder a pressões isolacionistas de americanos que querem que o país ignore crises pelo mundo.
Em apenas cinco meses, os EUA têm eleições legislativas –Obama corre o risco de perder a Câmara dos Deputados e o Senado para a oposição republicana.
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