Após confrontos entre Exército e separatistas, Donetsk tem dia calmo
Após dois dias de intensos confrontos entre o Exército ucraniano e separatistas pró-russos, a cidade de Donetsk voltou a ficar calma nesta quarta-feira (28).
Forças do governo mataram dezenas de rebeldes na segunda e terça-feira em uma ofensiva para reconquistar um aeroporto que havia sido tomado pelos separatistas na manhã seguinte à eleição de Petro Poroshenko como novo presidente da Ucrânia.
Os insurgentes pró-russos denunciaram nesta quarta-feira que cerca de 100 corpos de milicianos seguem há três dias no aeroporto de Donetsk. "Segundo nossos cálculos, dentro do aeroporto e também em seus acessos há entre 80 e 100 corpos. Estão há vários dias no local e não deixam tirá-los", disse o vice-primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Andrei Purgín, em entrevista à agência russa "Interfax".
O prefeito de Donetsk, Alexander Lukianchenko, havia dito que 40 pessoas morreram nos últimos combates na cidade, entre eles pelo menos quatro civis.
O governo ucraniano afirmou que não sofreu baixas na operação, que contou com apoio aéreo e incursão de paraquedistas.
Também em Donetsk, cerca de mil mineiros do setor de carvão fizeram uma manifestação nesta quarta-feira em apoio aos separatistas.
De modo geral, algumas lojas permaneceram fechadas e as ruas estavam mais quietas do que de costume na cidade.
As autoridades ucranianas indicaram nesta quarta que estão trabalhando para libertar quatro observadores da OSCE mantidos pelos separatistas desde a noite de segunda-feira em um local não determinado.
Durante a noite, a organização anunciou que uma outra equipe de observadores tinha ficado retida durante algumas horas em uma barreira montada em uma estrada perto de Donetsk.
NOVO PRESIDENTE
Poroshenko, um magnata que venceu a corrida presidencial no primeiro turno, repetiu sua promessa de restaurar o controle rapidamente em áreas sob domínio de separatistas.
"Estamos em um estado de guerra no leste. A Crimeia está ocupada pela Rússia e há grande instabilidade. Devemos reagir", disse ele ao jornal alemão Bild. "A operação antiterrorista finalmente começou. Não mais permitiremos que esses terroristas sequestrem e atirem nas pessoas, ocupem prédios e suspendam a lei. Vamos colocar um fim nesses horrores - uma guerra real está sendo travada contra nosso país".
A ofensiva apresentou-se como um desafio ao presidente russo Vladimir Putin, que fez da defesa de pessoas de etnia russa –como as do leste ucraniano– em outras partes da ex-União Soviética um pilar de seu governo.
Moscou exigiu que Kiev pusesse fim à operação militar no leste, enquanto Putin também anunciou a retirada de dezenas de milhares de soldados russos que estavam concentrados na fronteira com a Ucrânia. Um representante da Otan disse nesta quarta-feira que milhares de soldados russos haviam de fato recuado, embora outros milhares tenham permanecido no lugar.
Moscou está disposta a trabalhar com Poroshenko, mas não há planos para que ele faça um visita à capital russa para negociar. O governo russo nega acusações de Kiev de que esteja por trás da rebelião no leste.
"Não tenho dúvida de que Putin pode encerrar a luta usando sua influência direta", disse Poroshenko. "Eu definitivamente quero falar com Putin e manter conversas para estabilizar a situação."
Poroshenko e Putin poderão se cruzar na França, como convidados do governo francês para as cerimônias lembrando o Desembarque na Normandia, em 6 de junho.
LUGANSK
Insurgentes pró-Rússia atacaram uma unidade da Guarda Nacional ucraniana formada por voluntários na noite desta quarta-feira em Lugansk, também no leste.
"Um combate está sendo travado. Houve perdas entre os soldados ucranianos e os agressores", indicou a Guarda Nacional em seu site.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis