Colegas acusam militar libertado pelo Taleban de ser desertor
O sargento Bowe Bergdahl, que foi libertado no fim de semana após cinco anos sob poder do Taleban, não seria um herói, mas sim um desertor. A afirmação foi feita por alguns militares que serviram com Bergdahl, que o acusam de ter cometido um ato "egoísta" que custou a vida de outros soldados.
"Bowe Bergdahl desertou no meio da guerra, e seus colegas americanos perderam a vida procurando por ele", disse à CNN o sargento Matt Vierkant, que servia no mesmo batalhão que Bergdahl quando ele desapareceu, em 30 de junho de 2009. "Fiquei com raiva na época, e estou com ainda mais agora, com tudo isso que está acontecendo."
Para Vierkant, o soldado libertado não só tem que admitir publicamente seus atos, mas responder, na Justiça Militar, por eles.
AFP | ||
Sargento Bowe Bergdahl, em imagem de 2010; americano é libertado pelo Taleban após negociação |
Em artigo publicado no "Daily Beast", o veterano Nathan Bradley Bethea, que serviu com Bergdahl também criticou a celebração em torno da libertação do militar.
"Todo membro da minha brigada de combate recebeu a ordem de não comentar o que havia acontecido com Bergdahl por medo de colocá-lo em risco. Agora ele está salvo e é hora de falar a verdade", disse. "E a verdade é: ele é um desertor, e soldados da nossa unidade morreram tentando encontrá-lo." Pelo menos seis soldados teriam morrido em missões de busca por Bergdahl, de acordo com a CNN.
Segundo Bethea, o militar não "ficou para trás" durante uma patrulha noturna, como muitos jornais noticiaram. "Não houve patrulha naquela noite. Bergdahl foi rendido do seu posto e, ao invés de ir dormir, ele deixou o local a pé", disse.
Bethea detalha que ele teria deixado para trás rifle, capacete e colete, mas teria levado sua bússola. "Os soldados mais próximos a ele depois mencionaram que ele havia revelado a vontade de caminhar do Afeganistão em direção à Índia".
"Seu desaparecimento significou missões diárias de busca em toda a região de operação das tropas no Afeganistão, em especial a nossa", afirmou.
Para Bethea, sobreviver a cinco anos nas mãos dos talebans não torna o militar um "herói". "E também não significa que os soldados que ele deixou para trás tenham a obrigação de perdoá-lo."
MENTIRAS
Uma reportagem da revista "Rolling Stone" de 2012 trouxe trechos do que seriam mensagens de um desiludido Bergdahl aos pais sobre a guerra.
"O futuro é muito bom para ser desperdiçado com mentiras", diz um dos textos. "E a vida é muito curta para ser gasta com a condenação dos outros, bem como ajudando os tolos em suas ideias erradas. Tenho visto as suas ideias e eu tenho inclusive vergonha de ser americano."
Ao ser questionado no último domingo (1º) se Bergdahl teria desertado e deveria responder por isso, o secretário de Defesa, Chuck Hagel, desconversou.
"Nossa prioridade é garantir o seu bem-estar e a sua saúde, e trazê-lo de volta à sua família. O resto será visto depois", disse a jornalistas.
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