Afeganistão tem segundo turno em meio ao medo de violência
As preocupações com a violência e a apatia de eleitores, após uma campanha que deteriorou em ataques étnicos e pessoais, anuviaram o segundo turno da histórica eleição presidencial no Afeganistão.
O pleito abre o caminho para a primeira transferência de poder pacífica e democrática na história do país. No primeiro turno da eleição, dois meses atrás, os afegãos e suas forças de segurança surpreenderam o mundo e emocionaram a eles mesmos ao desafiarem o mau tempo, os avisos de fraude e as ameaças do Taleban para comparecer em alto número aos locais de voto. A polícia e o Exército garantiram a segurança de quase todos.
Mas não houve um vencedor direto, de modo que os afegãos vão voltar às urnas no sábado para decidir entre os dois primeiros colocados no primeiro turno: dois ex-ministros nacionalistas e moderados, Abdullah Abdullah e Ashraf Ghani, que se declaram modernizadores mas também possuem laços estreitos com os homens fortes da era da guerra civil.
O ambiente na capital é sombrio antes do segundo turno. Desde analistas e diplomatas até os próprios candidatos, quase ninguém prevê um comparecimento de eleitores tão grande quanto no primeiro turno, quando, segundo as autoridades, foram depositadas mais de 6,6 milhões de cédulas de voto válidas.
"O comparecimento dos eleitores é motivo de algum receio no segundo turno", disse um diplomata. O número de eleitores é importante porque, se uma porcentagem alta de afegãos vota, isso dilui os efeitos da fraude eleitoral e dificulta a contestação do resultado pelo candidato derrotado.
Os eleitores rurais podem estar ocupados agora com a colheita, que já está em curso em alguns lugares, preocupados com segurança ou simplesmente não mais estarem dispostos a ir votar sem o transporte gratuito e outros incentivos oferecidos em abril por candidatos nas eleições locais, realizadas juntamente com o primeiro turno.
Os candidatos dizem que as autoridades não resolveram todos os problemas de abril que levaram à escassez de urnas em alguns lugares e ao descarte de centenas de milhares de votos.
"Estou preocupado com a fraude sistemática, e a escassez de urnas não foi resolvida a contento", disse Abdullah, o candidato que saiu à frente no primeiro turno, com 45% dos votos. Ele diz que distribuiu cerca de 40 mil monitores por locais de voto em todo o país para vigiar contra fraudes.
"Mesmo assim, o comparecimento deve ser alto, a não ser que ocorra uma situação de segurança dramática, mas isso é algo que ninguém pode prever", disse ele, dias depois de sobreviver a um atentado com carro-bomba que matou 13 outras pessoas.
Dois meses atrás, no dia do primeiro turno, a violência se intensificou em todo o país, mas houve poucas mortes e não ocorreram grandes ataques em centros urbanos, que poderiam ter impedido os eleitores de votar.
Desde então, o Taleban, aparentemente humilhado por não ter conseguido impedir a eleição de transcorrer a contento, substituiu seu alto comandante militar e prometeu verter sangue.
Mas as forças de segurança dizem que aprenderam com o primeiro turno e já instalaram ainda mais restrições e postos de verificação. Desde sexta-feira (13), as autoridades de Cabul fecharam o tráfego por ruas da cidade a todos menos candidatos eleitorais e pessoas com emergências médicas, e as ruas estavam praticamente desertas, excetuando os congestionamentos nos muitos postos de checagem.
O próprio dia da eleição será apenas o primeiro obstáculo a transpor. Se os resultados apontarem uma diferença de poucos pontos percentuais entre os dois candidatos, após semanas de campanha agressiva, é possível que o perdedor se negue a reconhecer sua derrota ou que envie seus partidários para as ruas.
Tradução de Clara Allain
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