Acesso escasso a água influenciará conflito em Síria e Iraque
O resultado dos conflitos no Iraque e na Síria pode depender de quem controla os recursos hídricos minguantes, dizem analistas de segurança. Rios, canais, barragens, redes de esgoto e usinas de dessalinização hoje são alvos militares na região semiárida, que passa regularmente por fases de escassez extrema de água.
"Água é o grande objetivo estratégico de todos os grupos no Iraque. Se você a controla, você pode dominar Bagdá e causar problemas graves", diz, em Bagdá, Michael Stephen, vice-diretor do instituto Royal United Services, do Qatar.
Hoje, os rebeldes do EIIL (Exército Islâmico no Iraque e no Levante) controlam a maior parte das áreas-chave próximas às nascentes do Tigre e Eufrates, os grandes rios que fluem da Turquia, no norte do Golfo, para o sul, e dos quais todo o Iraque e boa parte da Síria dependem para se alimentar e produzir.
"Controlar recursos hídricos é ainda mais importante que controlar refinarias de petróleo, especialmente no verão", diz Matthew Machowski, da universidade Queen Mary, em Londres.
Hoje, o EIIL controla a barragem de Samarra, no rio Tigre, a oeste de Bagdá, e áreas em volta de uma grande unidade em Mossul. Forças iraquianas foram defender na semana passada a barragem de Haditha, e sua hidrelétrica no Eufrates. Se o EIIL tomasse o local, dominaria boa parte da eletricidade no país.
Proteger a barragem de Haditha foi objetivo primordial das forças dos EUA que invadiram o Iraque em 2003. O medo era que Saddam Hussein pudesse converter a estrutura, que fornece 30% da eletricidade consumida no Iraque, em arma de destruição em massa por meio da abertura de suas comportas.
SÍRIA
Na Síria, a Turquia foi acusada de reduzir o fluxo de água para o lago Assad, o maior de água doce do país, para cortar o fornecimento de Aleppo, e o EIIL teria mirado o fornecimento de água nos campos de refugiados.
A elevação da temperatura, uma das estiagens mais longas em 50 anos e o ressecamento de terras agrícolas foram identificados como fatores que contribuíram para a desestabilização da Síria.
O pesquisador Nouar Shamout, da Chatham House, diz que tanto o EIIL quanto o governo sírio vêm usando água como arma tática. "Os serviços essenciais da Síria estão à beira do colapso graças a ataques contínuos à infraestrutura hídrica. Os problemas podem se combinar para criar uma crise de água e de alimentos que multiplicaria mortes e migrações."
Historicamente, o Eufrates, segundo rio mais extenso do Oriente Médio, e o Tigre figuram no centro de conflitos. Alguns acadêmicos sugerem que, se a chuva continuar a diminuir no ritmo atual, até 2040 os dois rios poderão não mais chegar até o mar.
Tradução de CLARA ALLAIN
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