Radicais levam guerra síria para o Líbano
A guerra que fundamentalistas islâmicos conduzem na Síria e no Iraque para constituir o que chamam de "califado" extravasou no fim de semana para o Líbano, obrigando o Exército a deslocar unidades para a cidade de Arsal, na fronteira com a Síria.
A ofensiva do grupo causou a morte de 14 soldados libaneses, deixou 86 feridos e 22 desaparecidos, sem contar mais de uma dezena dados como sequestrados.
No lado rebelde, ligado ao grupo pró-Al Qaeda Jabhat al-Nusra e também ao EI (Estado Islâmico), os mortos foram 50, segundo as informações dos soldados que passaram a ocupar Arsal.
"Califado" é um Estado que adota a "sharia" (lei islâmica). Houve cinco na história, o mais recente deles o Império Otomano, liquidado na Turquia em 1924, com a ascensão do laico Kemal Ataturk. Agora, o EI tenta construir o sexto, em terras de maioria sunita no Iraque e na Síria, governado o primeiro por um xiita e, o segundo, por Bashar al-Assad, um alauíta, um ramo do xiismo.
Foram exatamente derrotas para as tropas de Assad que levaram militantes sunitas radicais a buscar refúgio em cidades do vale do Bekaa, no Líbano, junto à fronteira com a Síria. A mídia local chegou a calcular em 3.000 o número de homens armados que se abrigaram em Arsal e imediações.
"Essa situação criou um estado de perigo iminente, que resultou em repetidos choques e ataques a casas em Arsal, à morte de cidadãos libaneses e sírios e a frequentes sequestros", relata, para o site "Al Monitor", seu colunista Jean Aziz.
Para Aziz, embora o incidente tenha ocorrido perto da fronteira, todo o resto do Líbano "continua preocupado pelo que pode acontecer em seguida, porque não se trata de um incidente isolado".
O governo libanês parece concordar com essa avaliação, tanto que o primeiro-ministro, Tammam Salam, diz que não há hipótese de uma "solução política" (ou seja, de uma negociação com os radicais). "A única solução é a retirada dos militantes de Arsal e seus arredores", diz Salam, que é o mais graduado sunita a fazer parte do governo libanês.
Ou seja, ele é do mesmo ramo islâmico dos radicais, mas não compartilha de seu radicalismo.
Os choques em Arsal foram provocados pela prisão, pelo Exército libanês, de um militante chamado Imad Ahmed Jumaa, tido como participante do grupo Jabhat al-Nusra. Imediatamente depois da prisão, homens armados entraram em confronto com soldados do Exército, ao invadirem o centro de detenção das Forças de Segurança Interna.
Em pouco tempo, os combates se espraiaram para os arredores da cidade.
De acordo com as informações das autoridades libanesas, um número não especificado de soldados da Segurança Interna, não inferior a 10, foi levado para o outro lado da fronteira, para o território que os fundamentalistas controlam na Síria.
Como se a situação no Líbano já não fosse tremendamente complicada, há informações de que o Hizbullah ("Partido de Deus"), a milícia xiita que faz parte do governo libanês, poderia abrir outra frente de combate a Israel, em auxílio ao Hamas, por mais que este seja sunita. No entanto, Israel é inimigo comum aos dois.
Com agências de notícias
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