Análise: Extremistas que avançam no Iraque agora miram a Jordânia
Mesmo sob bombardeio aéreo dos Estados Unidos, o Exército Islâmico (EI), que já consolidou importantes posições em território iraquiano e sírio, mira agora suas armas para a Jordânia, cuja eventual ocupação de algumas regiões serviria de trampolim para lançamento de ações contra Israel a partir da Cisjordânia.
Essa opinião vem sendo compartilhada por inúmeros analistas israelenses e ocidentais que fazem, contudo, uma ressalva: ao contrário do mal organizado Exército iraquiano, mal treinado e com problemas de divisão sectária, as Forças Armadas hachemitas são bem estruturadas e contam com o apoio importante da Arábia Saudita e dos países do Golfo.
Além do mais, é mais do que sabido, Israel jamais permitiria que o EI estabelecesse uma vizinhança perigosa à Margem Ocidental do Jordão, de onde incitaria e armaria grupos de resistência à sublevação.
E mais importante ainda: são excelentes as relações entre o reino da Jordânia e o Estado judaico. É intensa a colaboração entre os serviços secretos dos dois países e, no passado, foi o Exército israelense que impediu virtualmente que a Síria invadisse o país e que os palestinos, sob o comando de Yasser Arafat, depusessem o rei Hussein.
Os palestinos tiveram perdas sangrentas no episódio que foi batizado de "Setembro Negro". Foi Moscou quem aconselhou o então presidente Hafez Assad, pai de Bashir, a abandonar a ideia de invadir a Jordânia, "um verdadeiro suicídio", segundo a liderança soviética da época.
Na ocasião, o então chanceler Andrei Gromiko fez uma viagem de urgência a Damasco para demover o governo sírio da empreitada.
Na verdade, impulsionado pelos primeiros sucessos militares obtidos no Iraque, o EI quer expandir o seu domínio regional.
Já antes da assistência aérea norte-americana, com bombardeios sobre alvos do EI, o Exército iraquiano havia recuado cerca de 180 quilômetros da fronteira com a Jordânia, deixando Amã vulnerável. Em resposta ao vácuo pelo lado iraquiano, o Exército hachemita enviou reforços à região de fronteira.
ESTRATÉGIA
Notícias publicadas nas últimas semanas pela imprensa jordaniana confirmam essas informações, ressaltando que existe um temor real entre o governo jordaniano no sentido de que o EI avance contra o território.
Citando fontes jihadistas não-identificadas, o noticiário revela que o grupo jihadista ultrarradical já conseguiu estabelecer células no interior do reino hachemita como parte da estratégia de criar um emirado regional.
Isso estaria de acordo com a lógica geopolítica regional. Após avançar no interior iraquiano, o EI pode mover-se contra a Jordânia a partir de duas direções: a Jordânia se configura na única abertura avaliável ao EI, uma vez que o grupo não pode se movimentar em direção ao norte -ou seja, a Turquia- e muito menos pelo sudoeste, em direção ao Líbano.
E, mesmo na Jordânia -concordam os observadores-, o EI teria de enfrentar sérios desafios.
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