Abbas faz nova tentativa de se impor como liderança única dos palestinos
Sem solução clara à vista para a batalha entre Israel e os palestinos militantes da faixa de Gaza, o presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, que foi em geral marginalizado e viu sua popularidade cair durante o conflito, está tentando uma nova jogada para reafirmar sua posição e se apresentar como líder de todos os palestinos.
Abbas planeja apresentar na terça-feira à liderança palestina uma iniciativa que, segundo diversas pessoas próximas a ele, deixaria de lado as negociações de paz com Israel intermediadas pelos Estados Unidos, que há anos vêm fracassando em produzir um Estado palestino.
Em lugar disso, ele apelará por uma conferência internacional ou resolução da ONU que requeira um cronograma para o final da ocupação do território palestino por Israel.
Para ganhar influência, Abbas pretende por fim aderir ao Tribunal Penal Internacional e outras instituições junto às quais ele há muito ameaça processar Israel por suas violações, disseram essas fontes.
Egito, Israel e os Estados Unidos vêm dizendo há semanas que reforçar a posição de Abbas e recolocar as forças de segurança que ele comanda no controle das fronteiras de Gaza era o objetivo das negociações de cessar-fogo no Cairo, mas o Hamas, grupo islâmico que controla Gaza, ainda não aceitou essas e outras condições.
Agora, os aliados de Abbas dizem que ele espera aproveitar a crise de Gaza e o impasse diplomático para pressionar por uma nova abordagem quanto ao conflito mais amplo entre Israel e os palestinos –e para mostrar ao público quem está no comando.
"Esse é exatamente o nosso momento, como o momento para os judeus europeus veio depois do Holocausto, quando eles disseram 'nunca mais'", afirmou Husam Zomlot, um dos funcionários mais importantes na área de política internacional do Fatah, a facção liderada por Abbas. "Essa é a hora de realmente operarmos. Ou operamos ou deixamos que o paciente morra, e o paciente aqui é a coexistência entre dois Estados. Não podemos simplesmente colocar bandagens".
Os detalhes da iniciativa de Abbas continuam sigilosos –ele a definiu apenas como "solução não convencional", em uma entrevista à TV egípcia no final de semana, admitindo que era provável que tanto os Estados Unidos quanto Israel a rejeitassem.
Mas mesmo durante seu esforço para se afirmar, a precariedade da posição de Abbas estava evidente.
Perguntado se visitaria Gaza, ele disse que o faria "no momento oportuno", mas acrescentou, "porque sou o presidente do país, é meu dever ir até lá".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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