Opinião: Para superar crise, Hollande precisa de 'Plano Marshall alemão'
Foi só no final de abril de 2017 que a ficha finalmente caiu para Berlim. Até então, o que se imaginava na Alemanha era que, apesar de dez anos de virtual estagnação econômica e desemprego de 14%, um dos partidos principais sairia vitorioso nas eleições presidenciais francesas marcadas para o mês seguinte.
No entanto, com a campanha em sua fase final, as pesquisas de opinião sugeriam que Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, de extrema-direita, seria a provável próxima presidente da França.
A mensagem de Le Pen era simples. A França devia abandonar o euro, conduzir sua própria política econômica de linha protecionista e proibir qualquer imigração.
Como as coisas tinham chegado a esse ponto? Nos cinco anos anteriores, desde a eleição de François Hollande como presidente socialista, em 2012, a Alemanha tinha dado as ordens na Europa.
As tentativas iniciais de Hollande de formar uma coalizão com a Espanha e a Itália contra a austeridade não deram em nada, e no final do verão de 2014 o presidente francês expurgou os membros de seu governo situados à esquerda de seu partido, que pediam a priorização do crescimento, não da redução do déficit.
A chanceler alemã, Angela Merkel, enxergou esse como sendo o momento em que Hollande finalmente ficou adulto.
Elogiou seu compromisso com o rigor orçamentário e as reformas estruturais. A França, ela disse, deveria provar que estava tão engajada com as reformas quanto a Espanha.
Os keynesianos franceses argumentaram em vão que a Espanha estava seguindo a mesma trajetória de empobrecimento de seus vizinhos seguida na década de 1930, quando os países buscaram uma parcela maior de um mercado encolhido, desvalorizando suas moedas e erguendo barreiras tarifárias.
A Espanha tinha seguido a prescrição alemã à risca. Tinha reduzido salários para tornar as exportações espanholas mais competitivas, mas o efeito posterior tinha sido o de dificultar ainda mais a vida dos produtores franceses e italianos.
Em agosto de 2014, Hollande ainda não tinha presidido sobre dois trimestres consecutivos de crescimento positivo. A economia tinha estagnado nos dois primeiros trimestres do ano, e o índice de desemprego teimava em continuar acima dos 10%.
O que a França precisava então era de uma política monetária mais agressiva do Banco Central Europeu e que Berlim anunciasse um Plano Marshall para a Europa.
O que ela recebeu foi mais do mesmo tipo de coisa, com alguns ajustes cosméticos. Os erros do final dos anos 1920 e início dos anos 1930 foram repetidos, resultando em filas mais longas de desempregados em busca de auxílio-desemprego e níveis crescentes de pobreza.
Os partidos da extrema-esquerda e extrema-direita foram descartados como irrelevantes. Mas o apoio dos eleitores a eles cresceu. E cresceu.
Tradução de CLARA ALLAIN
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