Análise: Com qualquer resultado, plebiscito escocês deixa temor na Europa
Uma maneira de encarar a campanha pela independência escocesa é vê-la como um acerto de contas entre vizinhos e rivais seculares. Mas também é a grande discussão dos nossos tempos –se nos encaminhamos para sociedades abertas ou fechadas, inclusivas ou excludentes.
Acompanhar a campanha significou conhecer convicções sinceras. Entre os que apoiavam a independência havia muitos que rejeitavam o rótulo de nacionalistas e ansiavam por um governo mais próximo do povo.
Entre os "unionistas" do "não", havia quem sentisse que conquistas, valores e instituições do Reino Unido pertenciam à Escócia tanto quanto à Inglaterra.
A ausência de David Cameron serviu para lembrar até que ponto os conservadores decaíram desde que Margaret Thatcher usou a Escócia como laboratório para ideologias liberais.
O premiê fez apenas um punhado de visitas ao país. O slogan nacionalista mais poderoso dizia que o "sim" significaria "nunca mais um governo conservador".
Tudo foi acompanhado por aliados do Reino Unido com preocupação. A Espanha está longe de ser o único país a recear bandeiras separatistas. Os EUA, com dificuldade para entender como um governo britânico deixou a coisa chegar a esse ponto, se preocuparam com a coesão da aliança ocidental.
Os europeus, em especial, tinham razão em se preocupar com qualquer que fosse o resultado final. O continente encontrou a paz há mais de meio século em uma colcha de retalhos de Estados multiétnicos. Mas o caleidoscópio voltou a girar.
Qualquer pessoa sensata que acompanhou os acontecimentos na Escócia deve ter tirado conclusões perturbadoras. Se as elites atuais não fizerem um governo mais responsável, que presta contas de seus atos, correm o risco de serem varridas para longe pela política da exclusão.
Uma globalização que enriquece os ricos e empobrece o resto da população não é sustentável. É preciso refazer os argumentos pelas sociedades abertas e inclusivas. O internacionalismo definiu a segunda metade do século 20; o nacionalismo abriu caminho de volta no século 21.
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