Opinião: Aliança de Marina e Aécio teria implicações na política externa
O eventual apoio de Marina a Aécio antes ou depois do segundo turno continua incerto. Se houver acordo, será a primeira aliança produzida sob os auspícios de uma tentativa de convergência programática.
Quais as implicações para a política externa?
A blogosfera aventou esses dias a hipótese de Marina virar chanceler.
O exercício remete ao famoso acordo de 2008 entre um Barack Obama vitorioso e uma Hillary Clinton derrotada, porém dona de vasto capital político e enorme prestígio internacional.
Se Marina tem algum interesse ou chance de ocupar o Itamaraty de Aécio, impossível saber hoje.
Mas quem quer explorar os contornos programáticos concretos de uma eventual aliança entre tucanato e marinismo em política externa ganhará com a leitura de André Lara Resende, "Os Limites do Possível", (Portfolio-Penguin, 2013, R$ 30,90 no eBook).
O autor é renomado economista, mas este não é um livro de economia. Trata-se, ao contrário, da mais importante obra recente sobre as relações internacionais do Brasil contemporâneo –concorde-se com suas teses ou não.
Além de oferecer um diagnóstico próprio do estado do mundo, o autor oferece soluções. Assim como outros tucanos, reitera a preocupação com o processo de globalização: o Brasil se adapta a ela de modo estratégico ou perde o bonde da história.
Porém, o autor lida com o assunto em perspectiva marinista. Mostra por que, a seu ver, o modo de avançar é por meio de novas instâncias de governança supranacional para além dos Estados e de olho nos limites ambientais do planeta.
A chefia do Ministério das Relações Exteriores aderiu à campanha.
Não, não desafiou a bateria de estudos recém-publicados segundo os quais a economia brasileira desmancha por erros internos (e não por circunstâncias externas, como quer a propaganda oficial). Tampouco criticou quem debita na política externa o colapso da balança comercial.
Em texto publicado nesta Folha na quarta (disponível em folha.com/no1528992), o chanceler centrou fogo no tema do uso da força nas relações internacionais.
O artigo é uma defesa, ainda que tardia e redigida em burocratês, do último discurso de Dilma na ONU.
Citam-se dois capítulos e dois artigos da Carta das Nações Unidas, além de uma resolução do Conselho de Segurança. Não é mensagem talhada para o eleitor.
A mensagem, porém, é clara. Diante dos novos desafios impostos pelo Estado Islâmico e pelas novas tecnologias da guerra utilizadas para combatê-lo, basta ao Brasil fazer mais do mesmo.
Na visão plasmada no texto, esses fenômenos não inviabilizam o arcabouço institucional ou normativo herdado de gerações passadas. Não há demanda por soluções novas para problemas novos.
Por isso, conclui o chanceler, "neste caso, renovar, ou pior, inovar não é desejável, nem atenderia às nossas melhores tradições".
A poucos dias da eleição mais competitiva de nossa história recente, trata-se de baita mensagem.
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