Escândalo sobre moradia presidencial alimenta protestos no México
Enrique Peña Nieto, o presidente do México, viu-se apanhado no domingo (9) em uma nova tempestade diante de alegações de que sua residência pessoal seria propriedade de uma companhia vinculada a um membro mexicano de um consórcio sob comando chinês que conquistou um contrato para um projeto de ferrovia de alta velocidade na semana passada —e o perdeu dias mais tarde.
As alegações, baseadas em documentos vistos pelo "Financial Times" e reportados pelo site noticioso Aristegui Noticias no momento em que Peña Nieto embarcava para a China, onde participa do fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), reforçaram os protestos quanto ao desaparecimento de 43 estudantes detidos pela polícia e que agora são dados como mortos.
O gabinete presidencial declarou estar ciente da reportagem sobre a residência de Peña Nieto, mas que não tinha comentário imediato sobre as alegações.
O governo está sob ataque no país e no exterior. Tweets zangados sobre a "Casa Branca" presidencial surgiram para reforçar a indignação causada pelo comentário "basta, estou cansado" (#yamecanse), usado pelo procurador geral da Justiça mexicana, Jesús Murillo Karam, para encerrar uma coletiva na sexta-feira.
A expressão logo começou a ganhar destaque no Twitter, como referência à corrupção e à violência que os manifestantes acusam o governo de não impedir. Durante uma manifestação na Cidade do México, sábado à noite, um pequeno grupo vandalizou e ateou fogo a uma porta de madeira do Palácio Nacional, a sede do governo, no Zócalo, a praça central da capital.
A publicação de documentos que aparentemente indicam que a mansão de Peña Nieto na Cidade do México pertence a uma empresa controlada pelo presidente do Grupo Higa, construtora vista como próxima ao presidente, surge depois que ele cancelou a concorrência que concedia o contrato ferroviário de US$ 3,6 bilhões, na quinta (6), como resultado de protestos ruidosos quanto a irregularidades.
A Constructors Teya, unidade do Grupo Higa, era parte do consórcio ferroviário sob liderança chinesa, e o Higa conquistou 8 bilhões de pesos (US$ 590 milhões) em contratos para obras públicas no Estado do México, que Peña Nieto governou de 2005 a 2011. Representantes do Grupo Higa não foram localizados para comentar.
O contrato ferroviário e o escândalo sobre a mansão presidencial, avaliada em 86 milhões de pesos, prometem complicar a viagem de Peña Nieto, já que Pequim se declarou "surpresa" com a decisão de cancelar o resultado da concorrência.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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