Cantor Enrico Macias diz que é seu dever mudar para Israel
"A melhor resposta para o antissemitismo é morar em Israel".
Assim o cantor franco-argelino Enrico Macias, 75, com mais de duas dezenas de álbuns lançados, temporadas anuais no Olympia de Paris, e amigo do premiê israelense Binyamin Netanyahu e do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, explica sua decisão de deixar a França, onde construiu sua carreira musical, para morar em Israel.
Citando atentados como o de Toulouse, ocorrido em março de 2012, em que um atirador matou três crianças e um adulto em uma escola judaica, Macias afirmou que o antissemitismo sempre existiu, mas que, quando emigrou para a França, nos anos 60, era "menos forte".
O cantor recebeu a Folha na segunda-feira (10), antes do show que apresentaria em evento beneficente promovido pela organização ambiental Keren Kayemet Leisrael, na Mansão França, em São Paulo, para um público de 600 pessoas que pagaram R$ 900 pelo convite.
Em um estilo que combina a canção francesa com elementos da música árabe andaluz, Macias faz sucesso entre a comunidade judaica sefardita (descendentes de judeus vindos da Península Ibérica do Norte da África) de São Paulo. A última vez que esteve no Brasil foi há 15 anos.
Para o cantor, a última guerra em Gaza serviu de pretexto para a eclosão de novos focos de antissemitismo na Europa. "Agora as pessoas dizem que não são contra os judeus, que são contra o Estado de Israel. Este é o antissemitismo disfarçado".
Macias afirmou, no entanto, que não está deixando a França por conta do antissemitismo. "Estou indo por um ato de força, de vontade, porque é meu dever. Depois de Auschwitz, Deus nos deu Israel", justificou.
"Vivi na França mas meu coração sempre esteve em Israel", acrescentou o cantor, frisando que em praticamente todas as guerras esteve no país oferecendo concertos e participando de atos públicos em apoio ao governo.
"Considero-me de centro-esquerda, mas uma vez eleito o novo governo, independente de quem seja, ofereço meu suporte".
Macias afirmou que "pior que os antissemitas são os judeus que têm vergonha de ser judeus e criticam Israel". "Odeio as pessoas que traem suas raízes e sua religião", afirmou o cantor, que diz ser contra o casamento misto.
Quanto à situação palestina, Macias primeiro afirmou: "É um milagre. Deus deu a sabedoria aos judeus, que acharam uma tecnologia para conter os ataques de mísseis vindos de Gaza".
"O problema do povo palestino é que eles têm dois governos muito diferentes. Um é terrorista e outro é moderado, e às vezes terrorista também. Não há com quem conversar", acrescentou.
Macias enxerga na construção de novas colônias e assentamentos judaicos uma possível solução negociada para o conflito.
"Penso que os assentamentos não estão sendo construídos para Israel. Eles deverão ser entregues para os palestinos, como prova de boa vontade. Não se trata de fazer a paz e deixar os palestinos com seus problemas. É preciso ajudá-los".
Macias confidencia que em suas conversas com Netanyahu, o premiê tem se mostrado mais preocupado com o Irã do que com os palestinos.
democracia
Assim como dezenas de milhares de judeus argelinos, Macias, nascido Gaston Ghernassia, deixou seu país de origem rumo a Paris no rastro da Guerra da Independência (1954-62).
Impedido de voltar à Argélia até hoje, ele afirma que democracia é algo que não combina com a cultura árabe.
"A democracia simplesmente não cabe no modo de ser e de pensar da civilização árabe. Você só encontra países governados por juntas militares ou onde a lei é a religião. Mas nem sempre a democracia é a melhor solução. Ela é mais indicada para os países onde o nível de conhecimento e educação da população são mais elevados", diz.
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