Antes das eleições, políticos argentinos alardeiam relações com famosas
O casamento de Jésica Cirio, uma vedete conhecida por participar de programas de competição de dança na TV, teve cobertura atenta da mídia de fofoca da Argentina.
O programa "Segredos Verdadeiros", do canal América, transmitiu uma entrevista com os noivos ao vivo, direto da festa. Um texto na tela avisava que se tratava do "casamento do ano".
O marido dela é Martín Insaurralde, prefeito de Lomas de Zamora, cidade da região metropolitana de Buenos Aires, e também pré-candidato ao governo da província.
Para ficarem conhecidos a tempo das eleições majoritárias de 2015, políticos argentinos sem projeção nacional optam por tornar públicos seus relacionamentos com celebridades.
Além de Insaurralde, o ex-presidente do Banco Central Martín Redrado, que é cotado para concorrer à Prefeitura de Buenos Aires, teve um relacionamento de grande repercussão com a modelo Luciana Salazar.
O término do namoro também foi muito difundido pelos programas vespertinos.
Há uma semana, Redrado se deixou fotografar com Amalia Granata, conhecida por participar de um reality show só de famosos. Ela se credenciou como celebridade após dormir com o cantor inglês Robbie Williams, que estava de passagem por Buenos Aires, e falar do caso com a imprensa.
Em uma entrevista a uma rádio, o apresentador do programa "Jornalismo para Todos", Jorge Lanata, disse que os relacionamentos midiáticos são uma estratégia para que o nome do político seja mais difundido.
"O que os políticos buscam com isso? Superar o grau de desconhecimento. É anterior à avaliação [que os eleitores fazem deles]. Depois o eleitor vai pensar se ele tem carisma, algo a dizer ou conexão com o povo."
'o grande cunhado'
Há alguns meses, Insaurralde anunciou o casamento no programa de maior audiência da TV argentina, o "Showmatch", apresentado por Marcelo Tinelli, uma espécie de Faustão do país.
Os argentinos atribuem a carreira política do deputado Francisco de Narváez a esse programa.
Em 2009, Tinelli apresentava uma paródia do "Big Brother" chamada "O Grande Cunhado".
Nele os participantes eram comediantes que imitavam políticos. Uma das paródias, a de Narváez, ficou famosa.
O próprio político foi ao "Showmatch" em uma ocasião. Nas eleições, ficou à frente do ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010, na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados.
"Tinelli é um motor impressionante, incrivelmente popular", diz o marqueteiro político Antonio Digenova.
Para Daniela Aruj, professora de marketing eleitoral, dar publicidade ao relacionamento com celebridades é uma tática desses políticos.
A grande vantagem, segundo ela, é que o público em geral associará o candidato a figuras queridas.
"É uma maneira indireta de fazer campanha e de se aproximar do eleitor, ainda mais quando a política causa uma certa ojeriza. Desse jeito, ele se torna conhecido sem falar de política", afirma.
A marqueteira diz que o caso de Redrado é emblemático, pois, falando de economia, "ele nunca seria ouvido por setores populares".
"Isso não é totalmente novo", diz Aruj, citando o caso de Alberto Rodríguez Saá, que, para conquistar simpatia, aparecia constantemente com a ex-modelo Delfina Frers, com quem namorou de 2010 até este ano.
Antonio Digenova acredita que a estratégia dos políticos de aparecer na mídia de fofoca deverá se tornar mais comum na medida em que os partidos perdem relevância para a escolha eleitoral e o personalismo importa mais.
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