Análise: Ex-presidente Sarkozy terá retorno político delicado na França
A eleição de Nicolas Sarkozy como presidente do partido conservador francês UMP, no sábado (6), marca a volta do ex-presidente à linha de frente da política francesa.
Essa eleição constituía a primeira etapa de um projeto cujo fim seria a reconquista da Presidência em 2017.
Mas, mesmo eleito em primeiro turno –64% de votos–, não teve a vitória esmagadora esperada.
Por outro lado, numerosos sarkozystas se distanciaram de seu líder. Sarkozy já não parece gozar do apoio unânime dentro de sua família política. Após a derrota na eleição presidencial de 2012, quando anunciou sua saída da vida política, personalidades do partido solicitaram um balanço da sua atuação.
Nessa linha de crítica, destacaram-se os ex-primeiros-ministros Alain Juppé e François Fillon, este ex-premiê do próprio Sarkozy.
A eleição à presidência da UMP não o qualifica automaticamente como candidato às presidenciais. O partido adotou o princípio de primárias "abertas" em 2016, ou seja, qualquer francês poderá votar nessas eleições internas.
Apesar da alta popularidade entre militantes da UMP, o nível de rejeição de Sarkozy pelos franceses em geral, e pelos que votam na direita, nunca foi tão alto.
Ele tem três grandes dificuldades para obter a confiança nas primárias da UMP.
Primeiro, sua personalidade e retórica confrontativas e de clivagem são freios à convergência das forças de direita –Juppé e Fillon se mostram mais consensuais.
Segundo, a estratégia bem-sucedida de 2007 de "direitização" do discurso, retomando temas da Frente Nacional (FN), já não parece tão efetiva. A personalidade de Marine Le Pen parece mais capaz de reter seu eleitorado do que Jean-Marie Le Pen em 2007, e a Presidência de Sarkozy gerou muitas decepções para o eleitor mais conservador.
Por último, a Justiça tem sete casos nos quais Sarkozy poderia estar envolvido direta ou indiretamente, com a potencialidade de levá-lo para a cadeia ou impossibilitar sua candidatura. O impacto negativo influirá na decisão dos eleitores.
ADRIÁN ALBALA, doutor em ciência política da Sorbonne, é pesquisador na USP
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