Jornalistas morreram menos, mas de forma mais brutal, em 2014
Um total de 66 jornalistas foram assassinados no mundo em 2014, segundo o balanço anual publicado nesta terça-feira (16) pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Em 2013, foram 71 mortos.
A organização de defesa da liberdade de imprensa com sede em Paris aponta que, embora neste ano tenha sido registrada uma leve queda no número de jornalistas assassinados no exercício da profissão (66 em 2014, 71 em 2013), a violência contra a imprensa passou por uma mudança.
Os assassinatos são cometidos com maior barbárie, são instrumentalizados com fins de propaganda. "Os sequestros aumentam consideravelmente com o objetivo de impedir que exista uma informação independente e de dissuadir os olhares externos", diz a RSF.
"A decapitação de jornalistas em 2014 mostra a magnitude da violência exercida contra as testemunhas indesejadas", afirma a RSF, referindo-se aos assassinatos dos americanos James Foley, que contribuiu para a cobertura da AFP na Síria, e de Steven Sotloff.
Os vídeos de decapitação pelo Estado Islâmico circularam em todo o mundo.
Eliot Blondet/AFP | ||
Ação da ONG Repórteres Sem Fronteiras em Paris, em referência a jornalista preso em contêiner |
Segundo o Balanço da Violência contra Jornalistas 2014 da RSF 119 jornalistas foram sequestrados no mundo, 178 presos, 853 detidos, 1.846 ameaçados ou agredidos e 134 precisaram se exilar.
Aos 66 jornalistas assassinados em 2014, é preciso somar 19 jornalistas-cidadãos e 11 colaboradores de meios de comunicação também mortos.
Dois terços dos 66 jornalistas morreram em zonas de conflito, como a Síria, que a RSF aponta como o país mais letal para os jornalistas, os territórios palestinos, o leste da Ucrânia, Iraque e Líbia.
A RSF também aponta a morte de três jornalistas no Afeganistão.
O Balanço da RSF informa sobre o aumento de assassinatos de mulheres jornalistas: foram seis casos contra três registrados no ano passado. As jornalistas morreram na República Centro-Africana, Iraque, Egito, Afeganistão e Filipinas.
A RSF organizou nesta terça-feira uma ação simbólica em Paris, apresentando um contêiner com a inscrição "isto não é um contêiner, é uma prisão", em alusão ao jornalista sueco-eritreu Dawit Isaak, detido em um contêiner no deserto.
AMÉRICA LATINA
Nenhum país latino-americano figura nas listas elaboradas pela RSF dos cinco países onde mais jornalistas são assassinados e presos, mas a organização lembra a morte dos jornalistas Luis Carlos Cervantes na Colômbia e de María del Rosario Fuentes Rubio no México.
O México aparece em quinto lugar na lista de países com mais jornalistas sequestrados, com três casos, atrás de Ucrânia (33), Líbia (29), Síria (27) e Iraque (20).
No total, 119 jornalistas foram sequestrados no mundo em 2014, e 40 deles continuam reféns. O número de sequestros de profissionais da informação registrou um amento de 30% em relação a 2013 (87).
Já a Venezuela figura em segundo lugar na lista de cinco países com mais jornalistas ameaçados ou agredidos, com 134 casos, atrás da Ucrânia (215).
"Neste ano diversos países foram palco de manifestações, em ocasiões muito violentas, nas quais muitos jornalistas foram agredidos, inclusive espancados pelos manifestantes ou pelas forças de ordem. Na Venezuela, 62% das agressões a jornalistas durante os protestos foram cometidas pela Guarda Nacional Bolivariana", afirma a RSF.
A Venezuela também aparece na lista de países que registraram o maior número de detenções de jornalistas, em quinto lugar, com 34 casos, atrás de Ucrânia, Egito, Irã e Nepal.
Em 2014, ao menos 853 jornalistas profissionais foram detidos no mundo.
O departamento colombiano de Antioquia figura em quinto lugar das zonas mais perigosas do mundo para os jornalistas, atrás dos territórios controlados pelo grupo Estado Islâmico (Iraque e Síria), o leste da Líbia, a região do Baluquistão (Paquistão) e as regiões de Donetsk e Lugansk (Ucrânia).
"No departamento de Antioquia (noroeste da Colômbia), informar é um trabalho de alto risco, em especial se forem investigados temas como a corrupção ou o crime organizado. Grupos criminosos paramilitares semeiam o terror, às vezes em cumplicidade com as autoridades locais", denuncia a RSF.
OUTRO RELATÓRIO
Outra ONG ligada à proteção de jornalistas, a Press Emblem Campaign (PEC), com sede na Suíça, divulgou relatório que lista, em 2014, 128 jornalistas mortos em 32 países, um a menos que em 2013.
A maior parte das mortes neste ano, segundo a PEC, foi registrada em Gaza: 16, durante a Operação Margem Protetora, empreendida pelo Exército de Israel na área dominada pelo grupo radical islâmico Hamas. Em segundo lugar vem a Síria (12 jornalistas mortos) e em terceiro o Paquistão (12 mortes). O Brasil está em 10º na lista, ao lado da República Centro-Africana, com quatro mortes.
A metodologia da ONG, que começou a divulgar seus números em 2006, inclui não apenas os jornalistas mortos no exercício da profissão, mas também as mortes acidentais ou "não intencionais".
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