Análise: Ataque deixa claro atrito entre Europa e população muçulmana
Não é verdade que o islã seja incompatível com a Europa "cristã e democrática", como vai ser dito depois do atentado à redação do "Charlie Hebdo" nesta quarta-feira (7). Nem que haja uma "guerra entre civilizações".
Mas o ataque brutal de Paris, assim como episódios anteriores de violência radical na região, deixam por outro lado evidente o atrito entre países europeus e suas populações muçulmanas.
O "Charlie Hebdo" já havia sido sido alvo de atentado em 2011 depois de publicar uma ilustração de Maomé. Na Dinamarca, é célebre o caso das caricaturas do profeta do islã com uma bomba na cabeça -que motivou revoltas e ameaças.
O diretor holandês Theo van Gogh, por sua vez, foi morto em 2004 após realizar um filme polêmico sobre o tratamento das mulheres no islã.
Esse atrito era justamente um dos temas da edição desta quarta-feira, representando o novelista francês Michel Houellebecq, que acaba de publicar um livro sobre a França do futuro -governada por muçulmanos. O temor diante da imigração e do crescimento dessa população é evidente ali.
O assunto é matéria-prima para a manipulação política em diferentes grupos. A direita francesa, por exemplo, é crítica à imigração ao país. Líderes islâmicos radicais mobilizam seus seguidores em torno de casos como o do "Charlie Hebdo", também.
O isolamento e a falta de perspectivas, aliás, são apontados por jovens militantes como uma das razões pelas quais viajam à Síria para lutar nas fileiras do Estado Islâmico. É a narrativa de Brian de Mulder, filho de uma brasileira, que deixou a Bélgica rumo ao terror.
Centenas de cidadãos franceses foram à Síria e ao Iraque para unir-se a grupos terroristas, e o retorno desses militantes preocupa desde então as autoridades locais.
Também preocupa, nos últimos meses, que a luta contra o Estado Islâmico, que é percebida em alguns círculos como uma "luta contra o islã", motive ataques como o desta quarta-feira, em Paris.
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