Bancas apostam em vendas-relâmpago de edição do "Charlie Hebdo"
Quem quiser garantir uma edição do "Charlie Hebdo" nesta quarta-feira (14) vai precisar acordar bem cedo em Paris.
A expectativa na capital francesa é que se esgote logo pela manhã a primeira edição do jornal satírico após o ataque que matou no último dia 7 de janeiro 12 pessoas –sendo oito funcionários do semanário.
Donos de bancas de jornais de Paris se preparam para grandes filas e apostam numa venda de todo o estoque em poucos minutos, apesar da grande quantidade de material que será impresso (3 milhões, ante os 60 mil habituais).
A capa do jornal, que terá oito páginas, mostra uma caricatura do profeta Maomé chorando e segurando um cartaz em que se lê "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie), frase que que virou símbolo após o atentado que matou quatro cartunistas. Acima do desenho do profeta, está escrito "Tudo é perdoado".
A edição deve ser traduzida em cinco línguas e distribuída em mais de 20 países.
Leandro Colon/Folhapress | ||
Leitor compra nova edição do "Charlie Hebdo" em banca de Paris |
Segundo Patrick Morault, 59, dono de uma banca na praça da Bastilha, os exemplares costumam chegar entre 4h e 5h (1h e 2h, no horário de Brasília).
As bancas, geralmente, abrem a partir das 7h. "Acho que às 8h tudo já vai esgotar", disse.
De acordo com ele, a empresa de distribuição do "Charlie Hebdo" informou que, provavelmente, nem todos os 3 milhões serão liberados nesta quarta.
"Fui avisado de que na sexta (16) deve chegar mais uma grande remessa", disse.
Outras quatro bancas na região receberam informação parecida. Em uma delas, um cliente reservou e pagou adiantado por dez exemplares.
O dono de outra diz que não aceitou "encomenda" e avisou que pretende limitar a venda de um jornal por pessoa.
Há uma certa apreensão em Paris pelo fato de o jornal ilustrar a capa com uma caricatura de Maomé, gesto considerado provocativo por radicais islâmicos justamente porque os ataques, segundo eles, ocorreram por causa desse tipo de imagem do profeta.
O cartunista Renald Luzier (Luz) chorou nesta terça-feira (13) em entrevista coletiva na apresentação da nova edição, editada nas dependência do jornal francês "Libération".
"É antes de tudo um homem que chora", disse Luz ao explicar o desenho de Maomé que ilustra a capa.
A imagem do profeta do islamismo deve ficar restrita à primeira página. Outras páginas devem fazer uma sátira com jihadistas (pessoas que vão para a jihad, a luta sagrada dos muçulmanos). A edição deve apresentar ainda charges e textos publicados anteriormente pelos cartunistas e jornalistas mortos no ataque.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis