John Kerry visita a Nigéria, que registra combates no nordeste
Intensos combates entre o Exército e o Boko Haram estão em andamento neste domingo (25) em Maiduguri, reduto histórico dos islamitas no nordeste da Nigéria, pouco antes da chegada a Lagos do secretário de Estado americano, John Kerry.
Além dos constantes ataques jihadistas no norte do país, John Kerry vai discutir o futuro político do país, faltando três semanas para as eleições presidenciais e parlamentares que se anunciam as mais disputadas desde o retorno à democracia na Nigéria, em 1999.
No momento em que o líder americano viajava para Lagos, a capital econômica do país, uma operação militar aérea e terrestre estava em andamento em Maiduguri, capital do estado de Borno, no nordeste, onde um toque de recolher foi estabelecido.
O medo de uma ofensiva islamita contra a cidade paira há alguns meses, desde que a insurgência começou a conquistar várias cidades e aldeias na região.
Foi em Maiduguri onde nasceu a seita Boko Haram em 2002, antes de se radicalizar em 2009 para tornar-se um grupo islâmico armado após a execução do seu líder pelas forças de ordem.
Esses ataques ocorrem no dia seguinte à visita do presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, na cidade para o seu primeiro comício de campanha. "Posso assegurar-vos que, se for reeleito presidente, o problema da insegurança será tratado", prometeu a seus partidários.
O próprio John Kerry anunciou sua visita a Lagos na sexta-feira (23) durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, por ocasião de um discurso no qual pediu que a comunidade internacional lutasse contra o "terrorismo" e grupos islâmicos como o Boko Haram, que multiplica seus abusos e conquistas territoriais no nordeste da Nigéria.
Mas a sua visita ao país mais populoso da África, a maior economia do continente, não deve ser exclusivamente dedicada à luta contra os insurgentes.
A questão das próximas eleições é central. Os Estados Unidos insistiram para que fossem realizadas em 14 de fevereiro, apesar da extrema violência da insurgência islâmica do nordeste ao sul do país, o que poderia evitar centenas de milhares de pessoas a participar da votação.
O assessor de segurança nacional da Nigéria, Sambo Dasuki, pediu esta semana o adiamento das eleições, dizendo que 30 milhões de cartões de eleitor não haviam sido distribuídos. Mas a Comissão Eleitoral manteve sua programação.
CLIMA POLÍTICO VIOLENTO
John Kerry deve se reunir em Lagos com o presidente Goodluck Jonathan, que tenta um segundo mandato de quatro anos, e seu principal rival, o ex-líder militar Muhammadu Buhari.
Segundo analistas, Buhari e seu partido, o Congresso Progressista (APC), têm uma chance real de vencer o Partido Democrático do Povo (PDP), pela primeira vez em 16 anos de democracia.
O PDP escolheu adotar uma campanha muito orientada contra Buhari, que teve que responder a acusações sobre a sua elegibilidade, saúde e crenças religiosas, apesar dos apelos para se concentrar em questões políticas e sociais, particularmente lançadas pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
O clima político violento na Nigéria foi ressaltado pelo International Crisis Group (ICG), em novembro de 2014.
Isso porque a memória da violência pós-eleitoral de 2011 continua viva: mil pessoas morreram na época.
O sulista cristão Goodluck Jonathan, o nortista muçulmano Muhammadu Buhari e os outros 12 candidatos à presidência assinaram um pacto de não-violência, mas confrontos e incidentes esporádicos já ocorreram.
Neste sábado (24), na cidade petrolífera de Port Harcourt, no sul, homens armados atacaram o local onde deveria acontecer uma reunião da oposição, sem causar vítimas.
O APC acusou o PDP de atacar seus partidários e sedes desde o início da campanha.
A visita de Kerry ocorre em um momento em que relações entre os dois países estão estremecidas.
O embaixador da Nigéria em Washington expressou sua forte insatisfação com a recusa dos EUA de vender armas ao seu país a fim de "acabar com os terroristas" do Boko Haram.
Mais de 13.000 pessoas foram mortas desde 2009 em ataques do Boko Haram e nas operações militares, e cerca de 1,5 milhão de pessoas foram deslocadas pela violência.
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