Economista combativo comandará finanças gregas e negociará com a UE
Yanis Varoufakis, o novo ministro grego das Finanças, já foi descrito como inconformista, brilhante, visionário e obcecado com ele mesmo. O economista de 53 anos, cuja presença cresceu graças a seu trabalho intensivo de comentar a crise financeira da Europa –em blogs, tuítes, palestras e livros– está acostumado a causar polêmica.
De todos os economistas que se uniram em torno de Alexis Tsipras, o novo líder grego de extrema esquerda, Varoufakis é de longe o mais combativo. Ele diz que as condições impostas aos programas de resgate que estão escorando a economia grega equivalem a um "waterboarding" (tortura de falso afogamento) fiscal. Mas Tsipras ouve o que ele diz.
Aris Messinis/AFP | ||
O novo ministro das Finanças grego, Yannis Varoufakis |
É muito possível que Varoufakis tenha sido nomeado para o cargo mais delicado do novo governo grego precisamente pelo fato de apreciar uma briga.
Na figura desse homem de cabeça raspada e adepto do fitness, os ministros financeiros europeus têm um adversário que não recuará facilmente. E que, além disso, parece possuir a resistência de um fundista, capaz de chegar até o fim da prova.
Mesmo dentro do Syriza, o partido de extrema-esquerda que o grego-australiano hoje representa como parlamentar, há quem considere suas posições heterodoxas. Alguns observam que tudo nele é diferente, a começar por seu nome –contrariando a tradição grega, ele insiste em eliminar o segundo "n" de seu primeiro nome.
Mas Varoufakis, que já lecionou no Reino Unido, Austrália e Grécia e abriu mão de um cargo na Universidade do Texas em Austin para retornar a Atenas, atendendo ao chamado de Tsipras, é também um astro.
Embora tenha passado pouco tempo no país nos últimos três anos, ele recebeu um número recorde de votos –135.638– no segundo distrito eleitoral de Atenas, de longe a seção mais difícil de disputar. Nenhum outro deputado do Syriza chegou perto disso –e, diferentemente de qualquer um deles, Varoufakis só estava na política havia três semanas.
Sua popularidade é atribuída à sua agilidade e capacidade de traduzir a economia de modo compreensível pelos gregos comuns e pelo discurso simples, embora contundente, com o qual ele desconstrói conceitos complexos.
Varoufakis escreveu recentemente: "Nós, gregos, tendemos a cometer um grande erro. Pensamos que nossa parceira má na UE é a Alemanha e que nosso parceiro bom, embora fraco, é a França. É um equívoco."
Descrevendo-se como "economista acidental", Varoufakis é o primeiro a dizer que não se deixa limitar pela ideologia.
Ao eleger o partido antiestablishment Syriza, os gregos podem ter optado por parar de abaixar a cabeça, mas, segundo Varoufakis, ninguém deve apegar-se demais ao poder. A ideia de comandar negociações com os parceiros da Grécia "é um projeto e uma perspectiva altamente assustador". Mas a política de austeridade precisa acabar, diz ele.
"A economia à moda bíblica, do tipo 'olho por olho, dente por dente', deixa todo o mundo cego e desdentado". Varoufakis não faz ideia de onde estará em dois, três, cinco ou dez anos. O que ele sabe é que a Grécia precisa se reerguer e que ele é o homem que vai tentar fazer com que isso aconteça.
Tradução de Clara Allain
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