Grafite em teatro de SP mostra pessoas rindo de assassinato por radical do EI
A cena de três pessoas rindo ao ver a imagem de um homem prestes a ser degolado por um membro da facção radical Estado Islâmico (EI) tem chamado a atenção de quem passa pela rua da Consolação, uma das mais movimentadas de São Paulo.
O painel de 5 m x 5 m é obra do artista de rua Paulo Ito e foi feita na fachada do Teatro do Incêndio, a pedido da companhia.
"Foi uma parceria com o artista e a gente deu total liberdade de criação para ele colocar a visão dele em cima da banalização da violência", diz Marcelo Fonseca, diretor artístico do teatro.
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Painel na fachada do Teatro do Incêndio, na r. da Consolação, com pessoas rindo de assassinato pelo EI |
À Folha, Ito disse que as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico não são o mote principal da pintura, mas a reação das pessoas a elas.
"A cena [do EI] pontua o tema, ela não é o tema central. Essa é a leitura que algumas pessoas fizeram. O tema é a banalização da violência", afirma.
Ito se defende de acusações de "apologia à violência" que surgiram desde que fez o grafite, no último dia 16. "Me acusam de fazer uma apologia à violência. () Se eu quisesse fazer uma apologia à violência, eu faria uma ação violenta de verdade", disse. "As pessoas vivem amedrontadas, então elas projetam o medo delas no trabalho dos outros."
HARMONIA
Para Fonseca, o trabalho feito por Ito está em "harmonia" com o trabalho realizado pelo teatro, que contesta a intolerância e a violência. "O que me chama a atenção é justamente as pessoas em volta rindo de uma coisa grave. Penso que é um pouco esse o retrato do mundo", afirma.
A companhia Teatro do Incêndio já tem 20 anos, mas só em 2014 se mudou para a rua da Consolação.
Seu diretor destaca que a arte tem a "vantagem" de fazer esse tipo de provocação. "Não podemos impedir que as pessoas deem as suas interpretações", diz. "Elas se colocam, dentro da experiência estética, onde elas querem: dentro ou fora da tela."
Fonseca diz não temer uma rejeição por parte do público, nem considera alterar o painel. "Eu não posso mexer na obra do artista. Se eu realmente achasse que isso fizesse mal, que fosse incitar coisas, eu ia falar para mexer", afirma.
Neste mês, a facção radical publicou um vídeo em que mostra seus militantes decapitando 21 cristãos egípcios na Líbia. Nos últimos meses, a milícia divulgou vídeos de ao menos oito reféns estrangeiros sendo executados na Síria -em um deles, o piloto jordaniano Maaz al-Kasasbeh é queimado vivo.
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