Opositor russo morto já não era ameaça política a Putin
Assassinado a poucos metros do Kremlin na sexta-feira (27), Boris Nemtsov, 55, experimentou o declínio político sem recuar dos ataques ao presidente Vladimir Putin.
Ao mesmo tempo, virou aliado das potências ocidentais e interlocutor dos ucranianos adversários da Rússia, um movimento que o fazia ser chamado de "quinta coluna" pelo grupo de Putin.
Nemtsov era deputado liberal do Parlamento regional de Yaroslavl, a 250 km de Moscou, cargo inexpressivo para o tamanho da repercussão de sua morte. Não era um fenômeno de votos.
Analistas destacam o contexto atual da Rússia para entender a comoção: foi assassinado perto do Kremlin, na véspera de um protesto do qual participaria e em meio a uma crise política -na Ucrânia- e econômica -moeda fraca e inflação em alta.
Nemtsov não era uma ameaça de poder a Putin, mas se destacava pelo carisma e o tom agressivo das críticas. Horas antes de morrer, chamou o presidente de "mentiroso" numa rádio.
Em 2011, passou duas semanas preso devido a protestos em Moscou. "Eu temo que Putin me mate", dizia.
MODELO
Não foi surpresa ele estar acompanhado de uma modelo ucraniana de 23 anos quando levou quatro tiros.
Persuasivo, de inglês fluente, galanteador, praticante de windsurf e esqui, fazia sucesso com belas mulheres enquanto, segundo a mídia, oficialmente estava casado com a mesma havia 20 anos.
Dos quatro filhos, só um é da mulher oficial. Dois são frutos de relacionamento com uma ex-apresentadora e outro com uma secretária.
Se não fosse a crise de 1998, talvez seu destino tivesse sido outro na política.
Nascido em Sochi (sudoeste do país), de mãe judia e pai ortodoxo, Nemtsov chegou a ser o preferido do presidente Boris Ieltsin (1991-1999) para sucedê-lo.
Formado em física, foi indicado em 1991 por Ieltsin para governar Nizhny Novgorod (antiga Gorky), a quinta maior cidade da Rússia.
O desempenho como governador nas reformas capitalistas após o fim da União Soviética o levou em 1997 a vice-premiê de Ieltsin. Mas o desastre da economia em 1998 obrigou Nemtsov a renunciar.
Acusado de ser um dos culpados pelo colapso, perdeu força e prestígio.
Em 1999, criou o neoliberal SPS (União das Forças de Direita). Obteve 8% de votos para o Parlamento. No ano seguinte, Putin chegou ao poder, e Nemtsov se enfraqueceu de vez. Seu partido não conseguiu cadeiras em 2003.
Retornou à cena cinco anos depois para se aliar a Michail Kasyanov, ex-premiê de Putin e hoje principal nome da oposição russa. Ambos dirigiam juntos o Parnas (Partido da Liberdade do Povo).
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