Análise: Não há alternativa ao acordo com o Irã
O discurso de Binyamin Netanyahu no Congresso norte-americano é um clássico da aplicação do velho dito popular, o que fala em juntar a fome com a vontade de comer.
Bibi, como é chamado o premiê israelense, permitiu aos republicanos do Congresso saciar sua fome de semear obstáculos à administração Obama, ao mesmo tempo em que ele próprio dava vazão à sua vontade de morder simbolicamente o presidente norte-americano, com o qual as relações sempre foram de ruins para péssimas.
Shawn Thew/Efe | ||
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, discursa no Congresso americano |
Ao desenhar o programa nuclear iraniano como um claro e presente perigo para a sobrevivência de Israel, Bibi acrescenta argumentos para que os republicanos boicotem um eventual acordo com o Irã, que seria um belo legado da administração Obama.
Que a posse da bomba pelo Irã (ou qualquer outro país) é sempre um perigo, não há dúvida. Mas Netanyahu superestima o perigo, como o faz sempre. Em 2012, por exemplo, dissera na Assembleia-Geral da ONU, que, "em poucos meses, possivelmente em poucas semanas, eles [os iranianos] terão suficiente urânio enriquecido para a primeira bomba".
Nem o serviço secreto israelense acreditava nele, como demonstra vazamento de relatório da mesma época do Mossad: "O Irã não está desenvolvendo a atividade necessária para produzir armas".
O problema de fundo, no entanto, nem é se o Irã está ou não na iminência de ter a bomba. O que interessa é como se pode evitar que chegue a ela.
E aí não há alternativa a um acordo como o que está sendo negociado. Digamos que se rompam as negociações e, em consequência, o Irã acelere o programa nuclear até chegar à possibilidade de produzir a bomba.
O que farão as potências ocidentais que agora negociam com o Teerã? Bombardearão o país? É simplesmente impensável pelo tremendo conflito no mínimo regional que provocaria, talvez um conflito global. E Israel seria certamente a primeira vítima.
Um acordo aceitável para as partes permitiria trazer o Irã de volta à comunidade internacional, o que, por sua vez, reduziria sua beligerância em relação a Israel, ao menos em tese.
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