Negociadores do Irã enfrentam obstáculos tardios para acordo
Os Estados Unidos e o Irã estão se aproximando de um acordo histórico para limitar o programa nuclear iraniano, mas estão enfrentando sérios obstáculos de última hora, incluindo quando as sanções das Nações Unidas seriam suspensas e como inspeções seriam conduzidas, disseram autoridades europeias e norte-americanas.
O secretário de Estado americano, John Kerry, que seguirá para Lausanne, na Suíça, na noite de domingo (15) para uma rodada crucial de negociações, ainda está em conflito com seu colega iraniano sobre a demanda do Teerã, de que as sanções das Nações Unidas sejam suspensas logo que houver um acordo, assim como a insistência de Washington, de que inspetores internacionais possam visitar qualquer espaço nuclear, mesmo que estejam em bases militares.
Também há discordância sobre a pesquisa iraniana e desenvolvimento de centrífugas avançadas, que permitiram ao Irã produzir combustível nuclear muito mais rapidamente, assim como sobre quantos anos o acordo duraria.
A Casa Branca espera que o acordo eventualmente possa dar início a um novo capítulo em um relacionamento que tem sido marcado, há décadas, por suspeitas mútuas, terrorismo apoiado pelo Irã, ciberataques americanos e retaliação iraniana.
Mas mesmo a perspectiva de um acordo desencadeou um confronto político furioso entre a Casa Branca e republicanos que disseram que isso não dará fim ao programa de bombardeio iraniano e vai encorajar nações árabes a montar seus próprios programas nucleares.
O ex-secretário de Estado Henry Kissinger disse ao Congresso recentemente que o efeito de um acordo emergente com o Irã seria "passar do impedimento da proliferação para a sua administração".
As áreas de convergência no acordo circulando em Washington e capitais europeias incluem o complexo plano em que o Irã enviaria grandes porções do urânio estocado para fora do país, quase certamente para Rússia. Em troca, os Estados Unidos e seus parceiros poderiam permitir que o Irã mantenha cerca de 6.500 centrífugas funcionando, em vez de algumas centenas –que estavam em discussão um ano atrás.
O número das centrífugas, que pode ser alterado nos estágios finais de conversa, vai ganhar proporção no debate público. Opositores do acordo argumentam que isso deixaria iranianos com uma capacidade latente de produção, ainda que o país tivesse uma quantidade limitada de urânio.
Mas entre os negociadores ainda se debate muito como gradualmente suspender as sanções da ONU, dos EUA e da Europa à medida que o Irã cumpra os termos do acordo.
O impasse sobre as sanções ressalta a pouco discutida, mas politicamente volátil questão para a administração Obama: quão rápido o Irã teria benefícios econômicos e tecnológicas a partir de qualquer acordo.
A suspensão e, em último caso, a eliminação das sanções, na exportação de petróleo e transações financeiras é a questão-chave para o presidente, Hassan Rouhani, e seu principal negociador, Mohammad Javad Zarif, se eles esperam vender sua atividade nuclear (limitada a dez anos ou mais) para líderes que se opuseram às negociações.
Mas qualquer suspensão rápida de sanções –por voto no Conselho de Segurança e por decisão do presidente Obama– poderia intensificar o já enfurecido debate no Congresso.
Um conselheiro de Kerry, disse o secretário recentemente, expressou preocupação de que mesmo que ele vença a última negociação com o Irã, qualquer acordo "vai ser difícil de suspender", no Congresso.
Kerry está chamando reforços para levantar o argumento de que um acordo garantiria que, por uma década ou mais, os Estados Unidos e seus aliados terão ao menos o aviso um ano antes do Irã manufaturar uma bomba nuclear.
O secretário de Energia, Ernest J. Moniz, um cientista nuclear que negociou com seu colega iraniano durante as duas últimas rodadas de negociação, integra a equipe americana nas próximas negociações. Moniz está lá para negociar detalhes que uma vez pareceram tirar o foco diplomático –como modificar matrizes de centrífugas para que não possam fazer combustível de armas, por exemplo– que de repente se tornaram questões cruciais no debate político.
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