Sob risco de derrota nas urnas, premiê britânico ataca até aliados
Politicamente isolado na reta final da campanha e diante do risco real de perder as eleições de quinta-feira (7), o premiê britânico, David Cameron (Partido Conservador), decidiu atacar não só adversários, mas os próprios aliados, os liberais-democratas.
"Se vocês querem que eu permaneça como primeiro-ministro, votem no Partido Conservador, e não no Liberal-Democrata", afirmou nesta segunda (4), em um evento fechado em Bath, a 160 km de Londres, a cerca de 300 simpatizantes do seu partido.
Dan Kitwood/AFP | ||
David Cameron participa de evento de campanha do Partido Conservador nesta segunda em Bath |
Cameron afirmou que o líder do Liberal-Democratas e vice premiê, Nick Clegg, negocia acordo com o Partido Trabalhista para tirá-lo do poder, ao lado do SNP (Partido Nacional da Escócia).
Pesquisas apontam que os conservadores devem ficar em primeiro lugar na eleição, com algo entre 270 e 280 cadeiras, mas sem atingir a maioria de 326 –de um total de 650 do Parlamento– para governar sozinho.
Será o "hung parliament", ou parlamento enforcado, em que nenhum partido obtém maioria para indicar o premiê. Foi assim em 2010, quando Cameron foi eleito após uma coalizão com os liberais-democratas. Desta vez, espera-se uma fragmentação muito maior e uma longa negociação política.
Os liberais-democratas se afastaram dos conservadores durante a campanha e já sinalizaram que não querem fechar novo acordo.
A rígida política de austeridade fiscal do governo ajudou a recuperar a economia, mas sofre resistência da população. O ajuste nas contas públicas e benefícios sociais pesou sobre a popularidade do partido de Nick Clegg, sensação das eleições de 2010 e que agora deve sofrer um revés considerável nas urnas.
Ou seja, praticamente isolado, restaria a David Cameron torcer para atingir a maioria na eleição –caso contrário, corre sério risco de ver o líder trabalhista, Ed Miliband, fazendo alianças para assumir o poder.
"A matemática eleitoral é muito desafiadora para Cameron e o Partido Conservador. Apesar do provável status de maior partido, poderão ficar fora do governo", destacou à Folha o especialista em política britânica Sean Kippin, da London School of Economics (LSE).
Editoria de arte/Folhapress | ||
ECONOMIA
Em Bath, Cameron repetiu o discurso de que o Partido Trabalhista seria um risco para a estabilidade da economia, ainda mais apoiado pelo SNP, partido que defende a independência da Escócia.
Os escoceses, aliás, devem ser os grandes vitoriosos na quinta-feira. Enquanto os dois partidos tradicionais, conservadores e trabalhistas, perdem votos e precisam de apoio para indicar o primeiro-ministro, o SNP deve obter mais de 50 das 59 cadeiras da Escócia em Londres –hoje tem só seis– e se tornar a terceira força do Parlamento.
A líder do partido, Nicola Sturgeon, já disse que, se depender dela, os conservadores vão deixar Downing Street (a sede do governo), nem que seja para dar aos trabalhistas o chamado "governo de minoria", em que o SNP ajudaria a eleger Miliband, mas sem integrar o governo dele.
David Cameron vive uma situação inusitada.
Os números econômicos são positivos, como o maior crescimento na Europa em 2014 (2,8%) e uma taxa de desemprego de apenas 5,5%.
Ele tem se amparado na economia para defender sua permanência no poder. Alega que o corte de £ 100 bilhões nas contas públicas desde 2010 foram essenciais para o crescimento.
"Economia é tudo no país", disse em Bath. E continuou: "Faça você mesmo uma pergunta: você confia em Ed Miliband para comandar a economia britânica?".
O líder trabalhista, por sua vez, afirma que a austeridade fiscal elevou o custo de vida da população e afetou os serviços públicos, como o NHS, o sistema de saúde do Reino Unido.
Apesar do crescimento econômico, Cameron não consegue aumentar a sua popularidade entre os britânicos.
Em pesquisa recente do instituto Yougov, 47% afirmaram que ele está indo "bem" no cargo, mesmo patamar dos que acham seu desempenho "ruim". Em 2011, quando completou um ano de governo, em meio a uma economia ainda em recuperação, o patamar era quase o mesmo.
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