Brasileiro em zona de guerra na Ucrânia pede socorro ao governo
Vivendo em zona de guerra no leste da Ucrânia, após passar semanas sem acesso à eletricidade, à internet e a linhas telefônicas, o brasileiro Claudio Freitas contatou a Embaixada do Brasil em Kiev pedindo ajuda para retornar ao país com a sua mulher e seu filho.
Freitas, 34, pediu demissão de seu emprego e viajou à Ucrânia no início de dezembro para resgatar Kateryna, que enfrenta dificuldades desde o início do conflito armado no leste do país, no início de 2014. O governo brasileiro prometeu fazer o possível para ajudá-los e para que eles viajem em segurança para o Brasil. No entanto, o casal enfrenta dificuldades para deixar a zona de conflito.
Os dois se conheceram por meio do Livemocha, rede social para prática de línguas, e se encontraram pela primeira vez na Ucrânia em março de 2010, quando ela engravidou.
Arquivo Pessoal | ||
Claudio Freitas (à dir.), Kateryna (à esq.) e seu filho Nikolay. Família busca ajuda de embaixada |
Na ocasião, Kateryna tentou viajar ao Brasil, mas sofreu pressões de seus parentes para ficar na Ucrânia. Como seu visto de turista venceu, Freitas teve de voltar para o Brasil e não pôde presenciar o nascimento de Nikolay —que chegou a ser operado e toma medicamentos por conta de problemas no coração.
De volta à Ucrânia, Freitas se casou com Kateryna em 10 de janeiro em um cartório de Kiev. Desde então, o casal tem encontrado muitas dificuldades para regularizar seus documentos —o que impede a sua estadia na capital ucraniana— e para deixar o país em segurança.
Freitas relatou à Folha que, para chegar à casa dos pais de Kateryna na cidade de Krasnyi Luch, teve de enfrentar maus-tratos das autoridades e armas apontadas para sua cabeça. Também contou ter sido obrigado a tirar a roupa em pleno inverno e a viajar de pé em ônibus lotados.
Com cerca de 90 mil habitantes, Krasnyi Luch fica na autoproclamada República Popular de Lugansk, região controlada há um ano por separatistas pró-russos que estão em guerra com as tropas de Kiev.
Recentemente, Krasnyi Luch chegou a ser invadida pelos cossacos, rebeldes armados independentes dos separatistas. Até que fosse retomada pelas forças separatistas, a cidade permaneceu praticamente isolada.
"Ficamos sem energia elétrica, internet e telefone por muito tempo. Os mercados ficaram desabastecidos. Uma banana, que custava 1 hryvnia, chegou a custar 75 hryvnias (cerca de R$ 11)", relatou Freitas, por telefone, à Folha.
Com a passagem para o Brasil marcada, a família tentou deixar a cidade no final de janeiro. Por causa da situação de guerra, foi necessário ir a um posto e pedir autorização de viagem —que lhes foi negada devido ao fato de Freitas não ser ucraniano.
Onde fica Krasnyi Luch (Ucrânia)
A situação da família se agrava devido à falta de assistência médica e ao alto preço dos medicamentos necessários para o tratamento de Nikolay. Como os serviços de bancos e de correios não funcionam, Freitas não consegue receber ajuda financeira de nenhum parente ou amigo.
"Só comemos batatas e macarrão. Se não sairmos daqui em dois meses, vamos morrer de fome porque nosso dinheiro está acabando", disse.
PEDIDO DE AJUDA
Após a expulsão dos cossacos, a energia e a comunicação foram restabelecidas. Então, Freitas pôde contatar a embaixada brasileira em Kiev e pedir ajuda para que retorne com a sua família para o Brasil.
O governo brasileiro se prontificou a repatriar Freitas e a arcar com as despesas de viagem da família. O serviço consular prometeu, ainda, fazer o possível para retirá-lo, juntamente com sua mulher e seu filho, da zona de guerra. No entanto, é necessário que a saída de Lugansk seja liberada pelas autoridades separatistas.
"Qualquer um [de nós] que entrar lá vai levar bala. Ele [Freitas] precisa sair de Lugansk", disse à Folha, por telefone, o embaixador Antonio Fernando Cruz de Mello.
Além disso, como o casamento não foi regularizado no consulado brasileiro, a saída de Kateryna e Nikolay do país depende da autorização do serviço de segurança ucraniano.
Tendo em vista a situação de instabilidade da região, Freitas e sua família temem o agravamento da guerra. Convivendo com sons de bombas e tiros, eles dizem ter uma grande sensação de insegurança.
"Eu não vou pegar em armas para poder comer o meu pão. Isto não é justo, esta não é minha guerra. Eu vim aqui apenas para resgatar minha família e nada mais. [...] Enfim, estou desesperado!", escreveu Freitas à embaixada brasileira.
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