Opinião
Israel e Arábia Saudita somam forças contra o Irã
A informação divulgada recentemente pela agência oficial iraniana de notícias Fars de que os rebeldes houthis, apoiados por Teerã e que derrubaram o governo do Iêmen, interceptaram um grande carregamento de armas e munições israelenses acondicionados na embaixada da Arábia Saudita na capital do país, Sanaa. não chegou a causar surpresas entre os observadores e analistas políticos regionais.
Na verdade, não é de hoje que Jerusalém e Riad vêm estreitando laços tanto na área de Inteligência quanto na de cooperação militar secreta. Especula-se, inclusive, que os sauditas abririam seu espaço aéreo à aviação israelense caso Israel decidisse desfechar um ataque contra as instalações nucleares do Irã.
Khaled Abdullah - 21.ja..2015/Reuters | ||
Combatentes houthi patrulham as ruas de Sanaa, no Iêmen |
O que explica essa situação um tanto inusitada, num cenário político complexo e contraditório como o do Oriente Médio, é a necessidade de israelenses e sauditas somarem forças contra um inimigo potencialmente ameaçador a ambos: um Irã que vem expandido sua área de influência na região e trabalha para se converter numa potência atômica com sérias aspirações hegemônicas.
No que pese a Israel, são reais os temores que um Irã que prega a destruição do Estado judeu se torne uma potência nuclear, apesar da elaboração de um tratado de contenção que o governo do premiê Netanyahu não coloca a mínima fé.
No que tange a Arábia Saudita, trata-se de uma redução de influência que vem se manifestando sucessivamente.
Teerã se faz presente na guerra da Síria, como aliado do governo Assad, sustentando, através do seu pupilo Hizbullah, o regime com armas e combatentes.
No Iêmen, os iranianos fomentaram através dos houthis, sob sua influência direta, a derrubada do governo do presidente Abdo Rabbo Mansour Hadi, apoiado pelos sauditas, que teve de abandonar o país.
O arsenal israelense caiu em poder dos houthis quando os rebeldes ganharam controle da área ocupada pela embaixada saudita.
Eles dizem também ter capturado importantes documentos indicando que os EUA planejam estabelecer uma base militar permanente na Arábia Saudita a fim de monitorar o estratégico estreito de Bab el-Mandeb (entre o Golfo de Áden e o Mar Vermelho) "com objetivo de proteger interesses norte-americanos".
É necessário não esquecer que a Arábia Saudita apoiou política e financeiramente o regime sunita de Saddam Hussein durante os oito anos de guerra entre o Iraque e o Irã.
Na verdade, Riad teme o expansionismo iraniano desde a vitória da Revolução Islâmica naquele país, em 1979.
Foi esse movimento que alterou dramaticamente as relações entre os dois países. Até então, Riad via no Xá deposto a barreira capaz de impedir qualquer avanço comunista guiado por Moscou no Oriente Médio.
Marcelo Katsuki/Fol | ||
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