Parisienses reagem com indiferença a ataque terrorista no sudeste da França
O maior ataque terrorista em território francês desde o atentado ao jornal satírico "Charlie Hebdo", em janeiro, não mobilizou os parisienses.
Na manhã desta sexta-feira (26), um atentado contra uma usina de gás industrial em Isère, sudeste da França, deixou ao menos uma pessoa morta e duas feridas. Segundo o presidente francês, François Hollande, não resta dúvida de que o ataque foi de natureza terrorista.
O noticiário sobre o ataque em Isère podia ser visto em boa parte das telas de TV de bares e cafés da região central, mas a tragédia não abalou a sexta-feira de sol da capital francesa.
Durante o primeiro dia realmente quente do verão —às 18h locais (13h de Brasília), os termômetros marcavam 32 graus—, turistas visitaram os cartões-postais da cidade e fizeram compras, como sempre.
No Faubourg-Saint-Denis, tradicional via que concentra lojas de comida e restaurantes de imigrantes dos países árabes, o ataque era assunto nos estabelecimentos comerciais.
"É uma tragédia. Pensávamos que depois do 'Charlie Hebdo' e da demonstração que a população deu nas ruas, manifestando-se por uma França unida e pacífica, isso não voltaria a acontecer. Vamos torcer para que seja um caso isolado", disse o marroquino Yussef Benjelloun, dono de uma loja de aparelhos celulares e lan house.
No café Le Sully, as norte-americanas Cynthia, 26, e Isobel, 24, recém-chegadas, perguntavam ao garçom argelino, Kaddir, sobre como a França convivia com a população islâmica.
"A gente se interessa, porque vivemos isso em nosso país, já sofremos atentados. Em alguns lugares, aprendemos a nos relacionar, em outros há muito preconceito e medo, que é o que gera mais clima para novos ataques", disse Isobel.
Na Fnac da avenida Champs Élysées, o casal pernambucano Vera, 28, e Mario, 31, calculava se valia a pena comprar o iPhone 6 aqui ou no Brasil. "Li no Twitter que tinha havido atentados na Tunísia e em Lyon. Como não se dizia nada de Paris, saímos para a rua", disse ele.
Próximo dali, no Grand Palais, onde está em cartaz uma grande exposição de obras do espanhol Velázquez, as irmãs Dora e Amélia, de Porto Alegre, não sabiam nada sobre o ataque.
"A gente estava planejando essa viagem quando mataram os cartunistas que desenharam Maomé, mas pensamos que deveríamos vir mesmo assim. Essa guerra não é nossa e não provocamos ninguém. Mas acho triste que mais pessoas sigam morrendo", disse Dora.
Editoria de Arte - Reprodução/Google Maps | ||
Outros dois atentados mataram dezenas de pessoas em uma praia na Tunísia e em uma mesquita xiita no Kuait.
O Departamento de Estado dos EUA disse que ainda não há nenhuma evidência de que os três ataques tenham sido coordenados.
Os ataques ocorrem três dias após membros da facção radical Estado Islâmico terem feito um chamado a seus apoiadores incentivando o "martírio" no mês sagrado do Ramadã. A milícia assumiu a autoria da ação no Kuait.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis