Sérvia classifica pedrada como tentativa de assassinato contra premiê
Marko Drobnjakovic/Associated Press | ||
Aleksandar Vucic (embaixo do guarda-sol, de óculos) deixa o memorial de Srebrenica às pressas |
O Ministério de Relações Exteriores da Sérvia exigiu neste sábado (11) uma condenação pública pelo ataque a pedradas contra o primeiro-ministro do país, Aleksandar Vucic, que participava da cerimôniapelos 20 anos do massacre de Srebrenica. Em resposta, a Presidência da Bósnia condenou a agressão.
A Sérvia classificou o ataque de tentativa de assassinato contra Vucic, que foi atingido no lábio inferior e teve os óculos quebrados. O próprio Vucic, contudo, manteve o tom de conciliação minimizando o ataque e dizendo que continuará trabalhando pela reconciliação entre sérvios e muçulmanos na Bósnia.
"Lamento o que ocorreu hoje e lamento que alguns não tenham reconhecido nossa intenção sincera de edificar uma amizade entre os sérvios e muçulmanos. Minha mão segue estendida e prosseguirei com minha política de reconciliação", disse o premiê à imprensa.
Diante da reação sérvia, a Presidência da Bósnia divulgou um comunicado no qual condena "nos termos mais firmes" o ataque contra Vucic e pediu que os agressores sejam identificados. O prefeito de Srebrenica, o muçulmano Camil Durakovic, se disse "profundamente desapontado" com o episódio e pediu desculpas ao primeiro-ministro.
Em 1995, durante a Guerra da Bósnia (1992-95), 8.000 homens e meninos muçulmanos foram mortos por tropas nacionalistas sérvio-bósnias, no que é considerado o maior massacre em solo europeu desde a Segunda Guerra.
Vucic, que foi a Srebrenica para o evento, acabara de depositar flores diante do monumento com os nomes das mais de 6.200 vítimas enterradas no memorial quando a multidão presente começou a gritar "Allah Akbar" (Deus é grande), vaiar e atirar pedras. Sob proteção de guarda-costas, o premiê sérvio conseguiu deixar o local enquanto os organizadores do evento pediam calma.
Embora o primeiro-ministro da Sérvia tenha participado da cerimônia em um aparente gesto de reconciliação, era possível ver entre os presentes faixas com dizeres como "para cada sérvio morto, mataremos cem 'bosniaks' [muçulmanos da Bósnia]".
A alta representante da União Europeia para Política Externa, Federica Mogherini, disse que a decisão de Vucic de participar da cerimônia foi histórica e que o ataque contra o premiê vai contra o espírito de reconciliação do evento. "Isso m ostra que precisamos redobrar os esforços para superar o ódio e prosseguir com a reconciliação na região dos Bálcãs", disse, pedindo que a agressão seja investigada.
Sérvios e sérvios-bósnios negam que o massacre tenha sido um genocídio -foi classificado assim por duas cortes da ONU, mas a Rússia, apoiada pela Sérvia, vetou uma resolução do Conselho de Segurança que reconhecia o genocídio.
Antes de participar do evento, Vucic publicou uma carta aberta em que definiu a matança como um crime monstruoso, mas não utilizou a palavra genocídio. "Não há palavras para expressar a tristeza e a dor pelas vítimas, nem a ira contra os que cometeram este crime monstruoso", escreveu o sérvio.
A cerimônia em Potocari, subúrbio de Srebrenica onde se localiza o cemitério, reuniu dezenas de milhares de pessoas, incluindo o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e o premiê turco, Ahmet Davutoglu.
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