Papa Francisco diz querer dialogar com críticos de discurso anticapitalista
O papa Francisco disse nesta segunda-feira (13) que reconhece as críticas feitas por conservadores americanos a seu discurso contrário ao capitalismo e disse ter vontade de dialogar com eles.
"Ouvi que houve muita crítica vinda dos Estados Unidos. Não tive tempo de estudar bem isto, mas todas as críticas devem ser recebidas, estudadas para depois serem alvo de um diálogo", disse Francisco, na volta a Roma.
Alberto Pizzoli/AFP | ||
O papa visita a basílica de Santa Maria Maior em Roma, após voltar de viagem à América do Sul |
A declaração foi feita em resposta ao pronunciamento na missa de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, na última sexta (9). Nele, o pontífice chamou o capitalismo de "ditadura sutil" e defendeu "uma mudança de estruturas" mundial.
Depois do discurso, conservadores americanos, alguns deles altos dirigentes católicos, chamaram as críticas do papa sobre o uso de combustíveis fósseis e o livre mercado "falhas e irresponsáveis".
Para os defensores do capitalismo, o desenvolvimento econômico no sistema capitalista é o principal motivo para que milhares de pessoas tenham deixado a pobreza no mundo.
O papa também foi questionado por jornalistas por sua prioridade aos mais pobres, deixando em segundo plano a classe média. Francisco disse ter posto de lado a classe média devido à polarização entre pobres e ricos.
"É um erro meu não pensar sobre isso. A classe média está cada vez menor. A polarização entre ricos e pobres é grande. Talvez isso tenha me levado a não considerar isso [os problemas da classe média]."
Francisco disse que fala com mais frequência sobre os pobres porque eles estão em maior número, mas considera que a classe média tem "grande valor". "Preciso me aprofundar mais sobre isso".
CUBA
Durante a entrevista na volta para Roma, Francisco insistiu que ele fez "praticamente nada" na mediação para a retomada das relações entre Estados Unidos e Cuba. "Havia desejo [de retomar as relações] dos dois lados".
Ainda sobre Cuba, o pontífice afirmou ter ficado surpreso quando descobriu que as delegações dos países fariam seu primeiro encontro, em janeiro de 2014. Ele foi avisado pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.
"Foi a boa vontade dos dois países, e o mérito é deles. Os dois ganharão em paz, reunião, amizade, colaboração, estes serão os grandes ganhos. Mas o que vão perder? Não posso imaginar".
Francisco visitará os Estados Unidos entre 22 e 27 de setembro. No país, será recebido pelo presidente Barack Obama e discursará no Congresso e na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
Entre 18 e 21 do mesmo mês, passará por Cuba, onde terá uma reunião com o ditador Raúl Castro. O papa fará uma das primeiras viagens entre Havana e Washington desde a retomada das relações diplomáticas, em dezembro.
Questionado sobre a crise na Grécia, Francisco disse que "seria muito simples dizer que a culpa é só de um lado". "Espero que encontrem uma forma de resolver o problema e de evitar que isto se repita em outros países".
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