Análise
Mortes misteriosas conferem ar de ameaça a fala de ministro de Israel
O ministro da Defesa israelense, Moshe Yaalon, afirmou em entrevista ao semanário alemão "Der Spiegel", na última semana, que não se sente responsável pelas vidas dos cientistas que trabalham no projeto nuclear do Irã.
A aparente ameaça implícita deve ser levada a sério, segundo analistas e observadores independentes. Não é de hoje que os inimigos de Israel acusam o país de manter um esquadrão de assassinos capaz de levar a morte a quem quer que ameace a existência do Estado judeu.
Essa equipe, conhecida como o "longo braço de Israel", estaria preparada para operar em qualquer ponto do globo, não importa quão hostil e perigosa seja a missão de extermínio a ser cumprida.
12.jan.10/AFP | ||
Investigadores inspecionam local de atentado que matou Massoud Ali Mohammadi, em Teerã |
Neste ano, por exemplo, antes mesmo que tivessem início as conversas com as potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos —que resultaram no acordo recém-firmado com o governo de Teerã—, quatro cientistas iranianos já foram assassinados. Em janeiro de 2012, um importante cientista da usina nuclear de Natanz morreu no centro de Teerã.
O regime iraniano considerou a ocorrência um atentado de Israel e de potências ocidentais, as quais são acusadas de deter o avanço de seu programa nuclear.
MOTO-BOMBA
Já dois anos antes, em 12 de janeiro de 2010, um físico nuclear dono de reputação internacional, Massoud Ali Mohammadi, morreu na explosão de uma moto-bomba em frente à sua residência, na capital iraniana. Naquela mesma data, outro importante físico nuclear, Fereydoun Abbasi Davani, que chegou a chefiar o programa nuclear do país, sobreviveu a um atentado semelhante quando estacionava seu carro na Universidade Shahid Beheshti, onde lecionava.
Em 23 de julho de 2011, o cientista Dariush Rezainejad, importante nome no departamento de projetos especiais do Ministério da Defesa, foi morto a tiros por dois homens em uma moto. Há outros casos semelhantes. Em 11 de janeiro do ano seguinte, o também cientista Mostafa Ahmadi Roshan, que trabalhava na usina de Natanz, morreu na explosão de uma bomba magnética colocada sob seu carro. O atentado ocorreu perto da Universidade Allameh Tabatabai, no leste da capital.
No ano passado, o Irã foi alvo de um ataque de hackers que teria atrasado em anos o desenvolvimento do programa nuclear.
Israel é igualmente suspeito de participação em mortes de cientistas sírios.
Em dezembro de 2014, em meio caos causado pela guerra civil, cinco cientistas que formavam a "nata" da pesquisa nuclear síria e estavam sendo cooptados pelo Irã foram vítimas de uma explosão que destruiu o carro em que viajavam.
PROGRAMA EGÍPCIO
Episódios assim têm acompanhado Israel ao longo de sua história. Na época em que o Egito era comandado pelo general Gamal Nasser (1918-70), convém recordar, cientistas egípcios e alemães que trabalhavam no projeto nuclear do país foram assassinados tanto em território egípcio como em capitais europeias.
Em 11 de setembro de 1962, em Munique, Heinz Krug, cientista espacial alemão que trabalhava no programa de mísseis para o Cairo, foi sequestrado quando deixava seu escritório —ele nunca mais foi visto, e acredita-se que tenha sido assassinado. Pouco depois, em 28 de novembro, cinco técnicos de uma fábrica de foguetes localizada em Helwan, Egito, foram mortos por uma carta-bomba possivelmente remetida de Hamburgo, na Alemanha.
Por fim, fora do contexto atômico, o Mossad, serviço secreto israelense, caçou e eliminou todos os integrantes do grupo terrorista Setembro Negro, que assassinou 11 atletas israelenses na Olimpíada de Munique em 1972.
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