Rússia patrocina show de motos que recria Segunda Guerra na Crimeia
Façanhas espantosas de moto, efeitos a laser, música rock e show pirotécnico: a história da Segunda Guerra Mundial nunca pareceu tão sedutora. O motoclube russo Lobos da Noite vai promover um espetáculo enorme na Crimeia anexada na noite de sexta-feira (21). A expectativa é que seja uma recriação dramática e altamente visual da Segunda Guerra Mundial como show de motos.
Liderada por Alexander Zaldostanov, mais conhecido como o Cirurgião, o clube Lobos da Noite tornou-se uma parte altamente visível de uma nova campanha patriótica na Rússia. O grupo recebeu um terreno enorme nos arredores de Sebastopol, na Crimeia, onde deve construir um grande centro dedicado aos esportes extremos e à educação patriótica. Notícias divulgadas esta semana sugerem que tenha recebido outra grande área de terra em Moscou.
Todos os anos os motociclistas promovem um show no porto de Sebastopol, na Crimeia, cuja importância cresceu desde que a Rússia anexou a Crimeia, no ano passado. O teor exato do espetáculo deste ano, que deve incluir façanhas de moto e enormes elementos sincronizados, está sendo mantido em segredo. Mas parece que a ideia geral envolve uma recriação da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, conhecida na Rússia como a Grande Guerra Patriótica.
Hannibal Hanschke - 8.mai.2015/Reuters | ||
Membros dos Lobos Noturnos posam sobre tanque do Exército Vermelho |
Um trailer do show começa com imagens de um discurso de Adolf Hitler, passando depois para motociclistas e cenas de shows anteriores. O museu de guerra de Volgogrado (ex-Stalingrado) cedeu ao grupo um tanque T-34 para usar no espetáculo.
Sob a égide de Putin, a vitória soviética na guerra vem sendo usada para alimentar o sentimento nacionalista, e seu 70º aniversário foi marcado com grande pompa em maio deste ano. Também vêm sendo traçados paralelos grosseiros entre eventos da guerra e fatos atuais —o governo pós-Maidan na Ucrânia é descrito como fascista, e a fita laranja e negra, um símbolo da vitória, foi adotada pelos rebeldes pró-Rússia no leste da Ucrânia.
Zaldostanov, em especial, é uma figura que vem ganhando destaque público frequente nos últimos 18 meses. Ele é um dos fundadores do grupo AntiMaidan, que promete evitar a possibilidade de um levante ao estilo do ucraniano na Rússia. Ele também esteve presente na inauguração de um enorme parque temático militar nos arredores de Moscou, em junho.
"Nos tempos soviéticos o Exército era uma coisa distante do povo, mas hoje todos nos sentimos mais próximos dele. O Exército vem sendo romantizado, e vejo isso como coisa positiva", disse Zaldostanov na época. "Se não ensinarmos nossas crianças, a América o fará por nós. Já vimos isso na Ucrânia."
AVENTURA
O show de motos acontecerá ao final de uma semana na qual Putin fez uma viagem de três dias à Crimeia, desceu ao fundo do mar Negro de batiscafo e concordou em dar cidadania russa ao boxeador americano Roy Jones Jr.
Putin fez a viagem até o leito do mar para olhar as ruínas de um navio mercante bizantino, que, segundo ele, comprova os vínculos antigos que a Rússia tem com a região.
Durante um encontro imprevisto com o boxeador, os dois falaram de artes marciais e então Jones pediu a cidadania a Putin.
"Quero lhe perguntar sobre a possibilidade de ter um passaporte para ir e vir, para que eu possa fazer negócios, aqui, porque todo o mundo aqui parece gostar de Roy Jones Jr, e eu gosto quando as pessoas gostam de mim", disse o pugilista. Putin respondeu que atenderá ao pedido com prazer se Jones tiver a intenção de passar bastante tempo na Rússia.
Putin foi a Crimeia também para discutir estímulos ao turismo, uma das maiores fontes de renda da região. Foram oferecidos descontos a funcionários públicos sobre viagens à Crimeia, e o movimento no aeroporto da península, em Simferopol, cresceu muito. Mas o número de visitantes ainda é muito inferior ao que foi visto em 2013, o último ano antes de a região ser anexada, devido à ausência quase total de turistas ucranianos e estrangeiros que antes chegavam à região vindos de outras partes da Ucrânia.
A única outra maneira de chegar à Crimeia é pelo estreito que a separa da Rússia, mas há filas enormes para embarcar nas balsas que fazem a travessia. Putin ordenou a construção de uma ponte para daqui a alguns anos, mas o projeto terá custo alto e corre o risco de sofrer atrasos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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