Suspeito queria roubar trem na França para comprar comida, diz advogada
O suspeito do ataque ao trem que fazia o trajeto Paris-Amsterdã na última sexta-feira (21) parece enfraquecido e mal nutrido, segundo uma advogada que conversou com ele neste domingo. Ele afirmou às autoridades que queria roubar o trem para comprar comida.
"Eu vi alguém que estava muito doente, alguém muito enfraquecido psicologicamente, já que sofria de malnutrição. Muito, muito magro", disse Sophie David ao canal BFMTV.
David afirmou que o marroquino de 26 anos, identificado formalmente neste sábado, expressou surpresa ao ser acusado por autoridades europeias de ser um militante islâmico.
AFP | ||
Foto retirada do Facebook mostraria Ayoub El Khazzani, jovem marroquino detido em trem na França |
"Ele está estupefato pelos motivos terroristas atribuídos à sua ação", disse a advogada, alegando que o jovem Ayoub El Qahzzani é seu cliente.
Ela disse ainda que ele estava descalço e usando apenas uma camisa de hospital branca e um short boxer durante seu interrogatório em uma delegacia de polícia de Arras, no norte da França, para onde o trem foi desviado após o ocorrido.
El Qahzzani teria dito a David que encontrou o rifle Kalashnikov que carregava no ataque ao trem em um parque perto da estação Gare du Midi, em Bruxelas, onde ele costumava dormir.
"Alguns dias depois, ele decidiu entrar em um trem que outros moradores de rua disseram a ele que estaria cheio de pessoas ricas viajando de Amsterdã a Paris e que ele esperava conseguir dinheiro para comer com o roubo armado", afirmou a advogada.
Segundo a rede BFM TV, essa identidade corresponde com a de um homem que consta na ficha dos serviços secretos franceses por possível vinculação com grupos terroristas.
Esta ficha foi elaborada, segundo o canal, porque a Espanha, onde El Qahzzani residiu entre 2013 e 2014, tinha informado à França em fevereiro do ano passado sobre o monitoramento de suas atividades, em particular por ser assíduo frequentador de uma mesquita considerada fundamentalista.
Isso levou à Direção Geral de Segurança Interior (DGSI, os serviços secretos franceses) a registrá-lo como uma pessoa com potenciais vinculações terroristas, caso entrasse no país.
El Qahzzani viveu em Algeciras, no sul espanhol, até 2014. Segundo fontes das forças antiterroristas da Espanha, citadas pelas agências de notícias, ele teria viajado à Síria, país dizimado por uma guerra civil com forte influência de grupos terroristas. Em seguida, os relatos são conflitantes, há fontes dizendo que ele teria voltado à França e outras citam a Bélgica. Segundo o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, os serviços espanhóis dizem que o suspeito pertencia a um movimento islâmico radical, mas ele não deu mais detalhes.
O jornal espanhol "El Pais", contudo, afirma neste domingo que o pai de El Qahzzani vive na Espanha desde os anos 90 e que a família obteve visto de residência no país em 2007.
O jornal afirma ainda que o jovem foi detido duas vezes em Madri em 2009, por venda de haxixe. Em 2012, ele voltou a ser detido em El Tarajal de Ceuta, já barbado e quando, segundo o jornal, seu processo de radicalização parecia concluído.
Este ano, ainda segundo o "El Pais", seu visto venceu e, por conta do antecedente criminal, não foi renovado. Mas sua família continua com visto de residência na Espanha.
O ATAQUE
Duas pessoas ficaram feridas na luta para dominar El Qahzzani a bordo do trem de alta velocidade que fazia o trajeto entre Amsterdã, na Holanda, e Paris, na França. Três jovens americanos, um dos quais sofreu ferimentos de faca, estavam entre os passageiros que ajudaram a conter o atirador e foram considerados heróis pelo presidente americano, Barack Obama.
Segundo informações divulgadas até o momento, o incidente começou pouco antes das 18h de sexta-feira (21), quando o trem da companhia Thalys 9364, com 554 passageiros a bordo, passava pela cidade francesa de Picardie.
Um passageiro francês de 28 anos estava indo ao banheiro quando cruzou com um homem sem camisa e armado com uma pistola automática Luger e um rifle Kalashnikov. O passageiro tentou dominar o suspeito, mas ele consegui se soltar e abrir fogo no vagão —atingindo no pulmão um passageiro franco-americano, que não corre risco de morte.
Três jovens americanos que estavam de férias na Europa e um britânico conseguiram render o suspeito e amarrar suas mãos e pernas. Nessa briga, um dos americanos, o militar Spencer Stone, foi ferido por uma faca na mão.
O agressor foi detido pela polícia quando o trem chegou na estação de Arras, desviado de sua rota prevista. Ele foi levado para interrogatório e deve ficar detido por até 96 horas, segundo a legislação europeia de terrorismo.
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