Candidato presidencial argentino defende reforma agrária e estatização
Alguns perfis de Nicolás Del Caño, candidato presidencial pela FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, na sigla em espanhol), dizem que o jovem político argentino costumava ser ainda mais radical em seu esquerdismo quando estudante na Universidade de Córdoba.
É difícil acreditar nisso ao ouvir seus discursos de campanha ("vamos confiscar os confiscadores") ou ao questioná-lo sobre a proposta de seu partido para a economia ("vamos começar tirando as terras dos grandes proprietários e estatizando todas as empresas que atuam em áreas estratégicas").
Reprodução/Facebook | ||
Nicolás Del Caño, candidato pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, vota em primárias |
Del Caño, 35, é o mais jovem entre os seis candidatos à Presidência argentina. Seu engajamento apaixonado é visto com bom humor por jornalistas e cientistas políticos que o consideram algo anacrônico –em entrevista no estúdio do tradicional jornal "La Nación", Del Caño foi provocado por um repórter, que perguntou de forma irônica: "Você expropriaria este jornal? Veja que lindos sofás temos na Redação!".
Ele também é tratado com bom humor entre seus próprios apoiadores. Um deles montou um videogame virtual que virou febre em sua campanha: "O povo contra os candidatos-abutres" (www.candidatosbuitre.com), em que Del Caño aparece, ao som da "Internacional Socialista", atacando o perfil "pró-mercado" dos favoritos à eleição –o oficialista Daniel Scioli (Frente para a Vitória) e o opositor Mauricio Macri (PRO).
RENOVAÇÃO
O primeiro triunfo do jovem candidato ocorreu nas primárias, no último dia 9. Del Caño venceu, dentro de sua chapa, o veterano líder socialista Jorge Altamira, 73, um trotskista que iniciou sua atuação organizando greves, foi um dos fundadores do Partido Obrero (PO) e é irmão do ativista Luis Favre, ex-marido de Marta Suplicy. Altamira já havia se candidatado a presidente várias vezes.
Com isso, Del Caño tornou-se oficialmente candidato presidencial –a votação ocorre em 25 de outubro.
"Há uma renovação do perfil dos trabalhadores, que não é mais o mesmo do início da luta sindical, por isso deveria haver uma renovação das lideranças", diz Del Caño à Folha, por telefone, ao tentar explicar a vitória.
"O setor da esquerda que derrotamos queria manter as coisas como estão. Eles foram importantes na época da ditadura (1976-1983), mas agora é hora de deixar a nova geração atuar", afirma.
Desde que foi eleito deputado pela província de Mendoza, Del Caño doa a maior parte de seu salário a fundos para a organização de greve. A inspiração, diz ele, veio dos integrantes da Comuna de Paris, de 1871.
Para combater a inflação, que já é estimada em 35% por consultoras independentes (o órgão oficial que mede o índice está sob intervenção), Del Caño propõe que o governo fixe preços e que os supermercados "deixem de ser dirigidos por alguns poucos grupos empresariais".
Acompanhado de sua candidata a vice, Myriam Bregman –reconhecida advogada de direitos humanos–, Del Caño propõe uma revisão das políticas nessa área.
"Direitos humanos estão sendo violados no dia a dia, e estes são os que temos de priorizar. Quanto a crimes dos anos 70, é preciso investigar sem a intenção de ganhar a simpatia e o apoio político das organizações."
Hoje, grupos tradicionais como as Mães e as Avós da Praça de Maio estão alinhados com o governo. "Cristina e Néstor Kirchner querem fazer com que os argentinos acreditem que foram eles quem inauguraram as políticas de direitos humanos, mas elas são uma conquista da sociedade desde os anos 80", afirma, referindo-se a julgamentos logo após o fim da ditadura e que condenaram generais e guerrilheiros.
A FIT teve cerca de 3% dos votos nas primárias. Apesar de não revelar quem apoiaria num segundo turno entre Scioli e Macri, Del Caño admite que a tendência de seu eleitor é rumar para Scioli, em voto útil contra o direitista Macri. "Mas eu mesmo, se tiver de escolher, não escolho nenhum", diz.
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