Ação russa na Síria ressuscita fantasmas da Guerra Fria
A admissão do chanceler russo, Sergei Lavrov, de que o país está agindo diretamente na guerra civil na Síria para manter o regime no poder desperta o fantasma, nunca exorcizado, de que a Guerra Fria volta a assombrar o mundo.
Até então, Moscou negava insistentemente qualquer tipo de envolvimento na guerra civil que destroça o país árabe a não ser através do envio de material militar e de alguns "conselheiros" para instruir as forças governamentais.
Há muito tempo, os EUA e a comunidade internacional vêm censurando Putin por esse envolvimento e o apoio tácito ao ditador Bashar al-Assad que é responsabilizado por milhares de mortes de civis nos últimos anos.
Não há indícios do envio de tropas ou unidades especiais russas para a guerra, mas especula-se entre o establishment militar israelense que o número de "conselheiros" e assessores já ultrapasse a casa de uma centena.
A hesitação dos EUA e das potências internacionais coligadas em intervir na guerra civil e a importância estratégica que a Síria tem para a Rússia praticamente impeliram Moscou a aprofundar o seu envolvimento no conflito.
Além de facilidades navais importantes que a Síria outorgou a Rússia no porto de Tartus, onde fica sua única base naval de apoio no Oriente Médio, a presença russa na área e a aliança implícita com o Irã, que também apoia Assad, dá a Moscou uma importância estratégica considerável.
Isso explica, entre outros fatores, a forte oposição russa a uma intervenção internacional na guerra civil síria.
Em 2014, Moscou, junto com a China, usou duas vezes seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para bloquear resoluções condenando Assad. Na ocasião, Lavrov insistiu que os sírios é quem devem decidir o destino do país.
OBAMA HESITA
O presidente americano, Barack Obama, tem sido fortemente criticado por ter perdido a oportunidade de mudar o cenário militar sírio.
Os críticos de Obama argumentam —e com certa razão— que a Casa Branca deveria empregado a força aérea para derrubar o regime de Assad.
A hesitação do presidente, que prefere bombardear o Iraque, afim de impedir que os radicais islâmicos controlem a maioria das jazidas petrolíferas, abriu espaço ao fortalecimento dos elementos mais radicais da oposição.
No vácuo, esses grupos se expandiram até a criação do autoproclamado Estado Islâmico, que passou a controlar uma extensão considerável de territórios tanto no Iraque quanto na Síria.
Por fim, argumentam os analistas que o cenário na Síria poderia ser outro se Obama tivesse mantido sua promessa de realizar os ataques aéreos. Hoje, prevê-se que a integridade do Iraque também está ameaçada.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis