Na ONU, Dilma admite que modelo de crescimento chegou ao limite no Brasil
Spencer Platt/AFP | ||
Presidente Dilma Rousseff discursa perante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York |
Em discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU, nesta segunda-feira (28) em Nova York, a presidente Dilma Rousseff admitiu que o modelo de crescimento do país "chegou ao limite", também por questões internas, e que o governo e o povo brasileiro "não toleram corrupção".
As menções à crise política e econômica enfrentadas pelo Brasil não eram esperadas durante o discurso da presidente. Oficialmente, o Palácio do Planalto dizia que Dilma falaria apenas sobre quatro temas: reforma do Conselho de Segurança da ONU, mudanças climáticas, Jogos Olímpicos no Brasil e refugiados.
A presidente, no entanto, disse que as medidas adotadas pelo governo para garantir o crescimento econômico, como redução de impostos, ampliação de crédito e estímulo ao consumo interno chegaram a um limite "tanto por razões fiscais internas como por aquelas relacionadas ao quadro externo".
"A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre o nosso crescimento. A desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas", disse a presidente.
Em seguida, Dilma defendeu o novo pacote fiscal apresentado pelo governo, que prevê corte de R$26 bilhões em despesas da União e aumento de impostos, inclusive com a proposta de recriação da CPMF, o imposto do cheque, agora com recursos que seriam direcionados à Previdência Social.
"Diante dessa situação, estamos reequilibrando o nosso orçamento e assumimos uma forte redução de nossas despesas, do gasto de custeio e até parte do investimento", afirmou Dilma. "Enfim, propusemos cortes drásticos de despesas e redefinimos nossas receitas", completou.
A presidente voltou a dizer que o país vive "um momento de transição para outro ciclo de expansão" e que o pacote vai "reorganizar o quadro fiscal" e "reduzir a inflação", fazendo com que o Brasil retome o crescimento econômico.
CORRUPÇÃO
Segundo Dilma, os avanços dos últimos anos no país foram obtidos "em um ambiente de consolidação e de aprofundamento da democracia", no qual o Estado "têm sido escrutinado de forma firme e imparcial pela Justiça e por todos os Poderes e organismos públicos encarregados de fiscalizar, investigar e punir desvios e crimes".
"O governo e a sociedade brasileiros não toleram e não tolerarão a corrupção", afirmou.
Com uma frase que não constava de seu discurso escrito, Dilma ressaltou a importância da continuidade institucional, o que foi interpretado por aliados como um recado indireto àqueles que se movimentam para a abertura de um processo de impeachment contra seu mandato: "O Brasil vai continuar trilhando o caminho democrático", declarou.
A presidente repetiu ainda trechos de seu discurso durante a cerimônia de recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral da República, há duas semanas no Palácio do Planalto, e disse que "nós, brasileiros, queremos um país em que a lei seja o limite".
Dilma reiterou que os governantes não devem "ceder a excessos", que juízes devem julgar "sem paixões político-partidárias" e que "as sanções da lei devem recair sobre todos os que praticam e praticaram atos ilícitos", assim como havia dito diante de Janot.
No âmbito internacional, Dilma criticou a capacidade da ONU em combater o avanço do Estado Islâmico e recebeu aplausos ao reiterar que o Brasil está aberto para receber refugiados.
OLIMPÍADAS
A presidente aproveitou o final de seu discurso de cerca de vinte minutos para convidar "os cidadãos de todo o mundo" para os Jogos Olímpicos e Para Olímpicos no Brasil em 2016.
"Essa será oportunidade única para difundir o esporte como instrumento fundamental de promoção da paz, da inclusão social e da tolerância, por meio da luta contra a discriminação racial, étnica e de gênero".
Por fim, Dilma usou a reinauguração na sede da ONU dos murais "Guerra e Paz", do artista brasileiro Cândido Portinari, para dizer que é responsabilidade das Nações Unidas "evitar os conflitos armados e promover a paz, a justiça sociais e a superação da fome e da pobreza".
Os murais foram doados à ONU pelo governo brasileiro em 1957.
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