Nora de Eichmann que era candidata na Argentina é expulsa de chapa
"Uma opção diferente", dizia o spot da então candidata a prefeita da cidade de Garupá, na província de Misiones, no norte da Argentina.
Não é uma ironia. De fato, a campanha de Carmen Beatriz Bretin Lindemann, conhecida como "La Gringa", não era nada convencional. Além de evocar o ideário nazista, pedia a revisão do que considerava "uma injustiça": a condenação à morte de seu sogro, ninguém menos que o tenente-coronel alemão Otto Adolf Eichmann (1906-62), um dos responsáveis diretos pelo Holocausto.
Na última quarta-feira (21), ao ser informado da candidatura de Lindemann por uma legenda menor que integra sua aliança, o candidato Sergio Massa, terceiro colocado nas pesquisas para a eleição de domingo, ordenou que fosse expulsa da chapa.
"Logo que soube quem era e o que dizia, a expulsei, simples e rápido assim. Não se identifica em nada com o que defendemos", disse o candidato. Com isso, Lindemann teve de abandonar a candidatura.
Uma reportagem do canal TN sobre a candidatura de "La Gringa", porém, já havia viralizado nas redes. Na entrevista, Lindemann afirmou que Eichmann era inocente e que não acredita "nos livros e filmes que falam dos crimes do nazismo, porque são todos feitos por judeus".
Lindemann admitiu a existência dos campos de concentração durante a Segunda Guerra, mas reforçou que "el abuelo" [o avô, como se refere a Eichmann, por ser o avô de sua filha] apenas cumpria ordens. "Ele mesmo nunca matou ninguém".
Acrescentou que, para ela, parecia "muito piores os holocaustos que ocorrem hoje, em que milhares de pessoas morrem, por exemplo, numa oficina de costura clandestina."
Lindemann foi casada com o filho de Eichmann e morou na casa do ex-oficial nazista, que passou mais de 10 anos em Buenos Aires, entre 1950 e 1960, vivendo clandestinamente até ser descoberto pelo Mossad (serviço secreto israelense). Julgado em Israel, foi condenado à morte por enforcamento, sentença executada em 1º de junho de 1962.
"Nas últimas cartas que nos enviou, disse que sabia que dessa não sairia, por mais que tivesse razão", conta Lindemann, com lágrimas nos olhos.
Eichmann era responsável por facilitar e gerir o processo de deportação em massa de judeus para guetos e campos de concentração e extermínio localizados nas áreas ocupadas pela Alemanha nazista no Leste Europeu.
Ele foi um dos vários nazistas que buscaram refúgio no país-vizinho, como Erich Priebke (1913-2013), que passou mais de 50 anos em Bariloche, e o médico Josef Mengele (1911-79), que escondeu-se também na Patagônia antes de buscar refúgio no Brasil.
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