Análise
Futuro de Assad na Síria é entrave na relação entre Obama e Putin
A aparente aproximação entre os Estados Unidos e a Rússia, simbolizada pela foto de Barack Obama em tête-à-tête com Vladimir Putin, durante a cúpula do G20 em Antalya, enfrenta um obstáculo até aqui inamovível, chamado Bashar al-Assad, o ditador da Síria.
Fácil de explicar: os Estados Unidos acham que a saída de Assad é essencial para o processo constituinte que os dois países –e mais os outros participantes diretos ou indiretos da guerra na Síria– acertaram em Viena, na semana passada.
Cem Oksuz-15.nov2015/Reuters | ||
Barack Obama (à esq.) conversa com Vladimir Putin em cúpula do G20 |
O processo culminaria em 18 meses, após o que se realizariam eleições, sem Assad, pela posição norte-americana, ou com ele, se depeder dos russos.
Essa divergência tem uma segunda vertente: os russos estão atacando todos os grupos que querem derrubar Assad, sejam os terroristas do Estado Islâmico, sejam as forças apoiadas (e armadas) pelo Ocidente.
Divergência explicitada pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, alinhado com Washington:
"Nós temos nossas diferenças com os russos, principalmente porque eles fazem muito para degradar a oposição não-Estado Islâmico a Assad, gente que poderia ser parte do futuro da Síria."
A frase explica tudo: essa "gente", se tiver papel relevante no futuro da Síria, se alinharia ao Ocidente e a Rússia perderia seu cliente no país, o que lhe permite ter sua única base na região.
Do lado russo, o diplomata e conselheiro do Kremlin Iuri Ushakov (que foi embaixador da Rússia em Washington entre 1999 e 2008) disse ao jornal português "Público" que "os objetivos estratégicos em relação ao combate contra o Estado Islâmico são, numa questão de princípios, muito similares, mas há diferenças na vertente tática".
Posto de outra forma, a Rússia não gostaria de que a derrota militar do Estado Islâmico abrisse as portas para que a oposição não-terrorista tomasse o poder, destronando Assad.
No momento, no entanto, EUA e Rússia estão de acordo: sem "eliminar" o Estado Islâmico, conforme o verbo usado por Obama, não há hipótese de iniciar um processo político que cale as armas.
Se esse objetivo for alcançado, a tática de cada lado voltará a exibir suas diferenças.
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