Com contrabando, comprar fuzil automático na Bélgica é fácil e barato
O mercado ilegal de armas na Bélgica pode ser um dos elementos que explicam a recorrente passagem de extremistas por esse país, incluindo aqueles responsáveis pelo atentado em Paris na última sexta-feira (13).
É relativamente fácil e barato comprar em Bruxelas um fuzil automático. As armas usadas contra o semanário "Charlie Hebdo", em janeiro deste ano, provavelmente também foram compradas na capital belga.
Segundo o pesquisador Nils Duquet, do Flemish Peace Institute, os fuzis de tipo Kalashnikov chegam à Bélgica via Bálcãs. Em geral, vêm em pequenos lotes, impossíveis de rastrear –escondidos, por exemplo, em pisos falsos de caminhões.
Não há estatísticas desse comércio ilegal, mas ele afirma haver consenso entre especialistas em segurança que o número dessas armas está crescendo nos últimos anos.
À Folha Duquet estima ser possível comprar um fuzil automático por entre R$ 4.000 e R$ 8.000. "O preço depende do modelo, do estado em que está a arma e para quão cedo você precisa dela", diz. "É mais barato se puder esperar uma semana para receber o item, por exemplo."
O pesquisador diz que uma das dificuldades para controlar esse tráfico é a falta de informações, sem as quais a polícia local não consegue traçar uma estratégia clara.
"Não sabemos quantas armas existem nem de que tipo, então fica difícil analisar o problema", afirma.
Também atrapalham as operações policiais o baixo número de funcionários e as leis que impedem, por exemplo, o uso de grampos telefônicos para tal investigação.
Yves Herman - 17.nov.2015/Reuters |
Policiais belgas fazem buscas no bairro de Molenbeek, na periferia de Bruxelas |
REPUTAÇÃO
Duquet afirma que a disponibilidade de armas no mercado ilegal não é um problema especificamente belga. É possível comprar rifles em outras grandes cidades do continente, diz. O que faz da Bélgica um caso especial é sua tradição na área.
"Temos um histórico de produção de armamentos e de posse legal. As pessoas sabem lidar com armas. Há uma certa afinidade emocional. Sabem desmontar e consertar fuzis, por exemplo."
A situação mudou a partir de 2006, após um ataque em Antuérpia que deixou dois mortos. A Bélgica endureceu, então, a legislação em relação à compra de armas.
"Antes disso, criminosos europeus iam a Antuérpia para comprar armas", diz Duquet. "A situação mudou, mas a reputação continua, e ainda existem redes de contrabando."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis