Rússia acusa Turquia de dar apoio logístico à milícia Estado Islâmico
Putin acusa e os turcos negam.
A derrubada do bombardeiro russo pela Turquia no dia 26 do mês passado, afirma o líder russo, objetivava proteger os suprimentos de petróleo e derivados refinados que o Estado Islâmico vem fornecendo aos turcos em troca de apoio logístico, cooperação militar e assistência médica e financeira.
Os terroristas teriam ainda livre trânsito nas regiões de fronteira entre a Turquia e a Síria e inclusive no recrutamento de novos soldados.
Nesta segunda (30), o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, negou enfaticamente que seu país esteja recebendo petróleo do Estado Islâmico e desafiou o presidente Putin a provar isso.
Putin baseia suas acusações nas informações levantadas pelo serviço secreto militar russo, que é bastante ativo na região.
Analistas e observadores israelenses, por seu turno, corroboram essas informações e se somam a um número expressivo de fontes ocidentais que colocam em xeque a credibilidade das reações turcas.
Essas fontes incluem expressivos órgãos da mídia, como "The New York Times", "The Washington Post", "The Guardian", "Daily Mail", BBC e até mesmo veículos turcos, como a CNN Turk e o "Hurriyet Daily News", entre outros.
Vadim Savitsky - 30.nov.2015/Reuters | ||
Ao lado do caixão, militares russos homenageiam o tenente Oleg Peshkov, que pilotava o avião abatido pela Turquia |
Seus noticiários indicam a existência de uma estreita colaboração entre autoridades turcas e a liderança do Estado Islâmico.
Um comandantes do EI revelou, por exemplo, ao "The Washington Post", em 12 de agosto passado, que "a maioria dos combatentes que têm se juntado a nós desde o início da guerra cruzaram a fronteira turca, assim como suprimentos e equipamentos militares a nós destinados".
Por outro lado, Kemal Kiliçdaroglu, chefe do Partido Republicano do Povo (CHP), emitiu um comunicado em outubro indicando que caminhões dirigidos por motoristas turcos estão transportando armas e suprimentos para os terroristas, muito embora o governo Edorgan alegue que se trata de "ajuda humanitária".
Por outro lado, um oficial egípcio de alta patente, citado pela imprensa israelense, revelou que o serviço de inteligência turco está repassando imagens de satélite e informações estratégicas ao EI.
Abdalghne Karoof - 27.set.2015/Reuters | ||
Prédio que era usado pela Frente Al-Nusra em Aleppo (Síria) e foi destruído por ataques da coalizão |
Por fim, o respeitado Seymour Hersh escreveu na "London Review of Books" que o Estado Islâmico vem utilizando gás sarin em seus ataques na Síria e que os militares turcos vêm sendo devidamente informados sobre isso.
Hersh relembrou que o presidente turco, Recep Edorgan, é conhecido por apoiar a Frente Al-Nusra, uma milícia que atua entre a oposição síria:
"Nós sabemos que alguns radicais dessa frente integram o governo turco" revelou um importante elemento da inteligência norte-americana em entrevista a Hersh.
MÁRIO CHIMANOVITCH é jornalista e ex-correspondente de jornais brasileiros no Oriente Médio.
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