Na reta final para eleição, chavistas e opositores redobram artilharia
Na reta final da campanha para a eleição parlamentar do próximo domingo (6) na Venezuela, governo e oposição acirram seu confronto com promessas antagônicas para tirar o país da crise.
Impelida pela queda da aprovação do presidente Nicolás Maduro, estancada em 22%, a oposição lidera pesquisas de intenção de voto com folga, embora não tenha agenda clara de propostas.
Agregados na aliança MUD (Mesa da Unidade Democrática), candidatos opositores intensificam esforços para alardear a ideia de que a conquista do Parlamento é o primeiro passo imprescindível para reverter o cenário de inflação, desabastecimento e criminalidade chocante até para padrões brasileiros.
O slogan da MUD é: "a Venezuela quer mudança".
"Nossas pesquisas mostram que nomes de candidatos são um detalhe, o importante para as pessoas é a ideia de mudança", afirma o analista Oswaldo Ramirez, da ORC Consultores, mais próximo da oposição.
"É evidente que o pleito será um referendo da gestão Maduro", afirma.
Setores mais radicais, como os aliados de Leopoldo López, preso há um ano e meio sob acusação de instigar violentos protestos, falam abertamente em tomar a Assembleia Nacional para pôr fim à chamada revolução bolivariana por meio de um referendo revogatório ou de uma emenda constitucional.
"Vamos tirar Maduro da Presidência", discursou o candidato Freddy Guevara em evento recente. Ele se referiu a uma prerrogativa que será possível caso a oposição conquiste dois terços das 167 cadeiras (a Assembleia será totalmente renovada). Alas moderadas evitam ameaçar diretamente o chavismo.
FOGO CERRADO
A estratégia opositora, porém, esbarra na artilharia pesada de um governo que controla a maior parte da mídia e usa abertamente a seu favor recursos públicos e instituições do Estado.
Contra a falta de visibilidade na imprensa, a MUD aposta no porta a porta.
A autoconfiança adquirida lhe permite fazer campanha até em redutos chavistas onde o acesso lhe era tradicionalmente vetado.
"Nestes últimos dias, o importante é bater perna e continuar indo ao encontro das pessoas humildes, tão afetadas por este governo", diz o ex-candidato à Presidência Henrique Capriles, cabo eleitoral da MUD no Estado de Miranda, que ele governa.
Outro obstáculo é uma aparente tentativa de confundir o eleitor. No cartão de voto com as opções de partidos e candidatos, a sigla governista Min-Unidade aparece ao lado da MUD, com cores e logotipo parecidos.
Isso obrigou a MUD a transformar seu jingle de campanha em alerta aos simpatizantes para que não votem na Min-Unidade por engano.
"Abaixo, à esquerda, a mãozinha na esquina", repete a música, numa referência à mão com polegar levantado que é símbolo da MUD.
Marco Bello - 30.nov.2015/Reuters | ||
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, durante comício em Caracas na última segunda-feira (30) |
SOMBRA DO PASSADO
O governo admite que há problemas, mas insiste que pode resolvê-los. O chavismo culpa a oposição pela crise econômica e, nos últimos dias, dobrou esforços para amedrontar a população de renda mais baixa.
Se a oposição vencer, martelam governistas, dois problemas assombrarão o país.
Primeiro, haverá violência, repete Maduro na TV. Ele se disse "militarmente pronto para assumir [a eventual] derrota" e anunciou que haverá um "massacre" se a revolução perder.
A segunda ameaça é que programas sociais e subsídios serão eliminados, gerando níveis de miséria semelhantes aos que deflagraram o Caracazo, a revolta de 1989 na qual a repressão do então governo deixou 3.000 mortos.
Até anos atrás, o sucesso político do chavismo era atribuído à diminuição da pobreza e à universalização da saúde e da educação.
Documento interno do chavismo obtido pela Folha recomenda aos candidatos que repitam como mantra a ameaça de voltar à chamada Quarta República, que governou até a eleição de Hugo Chávez, em 1998.
Por essa lógica, um dos alvos preferidos dos ataques governistas tem sido o candidato opositor Henry Ramos Allup, 72, político importante nos anos 1980 e 1990.
"O povo venezuelano sabe quem o despreza e quem o defende", disse à Folha Jorge Rodríguez, chefe da campanha chavista.
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